Nós e o crack Parte 1
(por Preto Zezé)
O envolvimento da Central Única das Favelas (CUFA) com a problemática do crack iniciou-se ainda em 1998 com as gravações do documentário “Falcão Meninos e o Tráfico”. Em 2006, caímos em campo na exibição do documentário para a sociedade e para o presidente da República, alertando sobre a merla, mais comum no centro-oeste do País, e o crack, mais presente em São Paulo, de onde estava se espalhando rapidamente para todo o território nacional. Voltamos nossa atenção para estudar e compreender melhor essas drogas. Nossas estimativas à época apontavam para uma epidemia do crack em 2013 e da merla em 2017. No mesmo ano, em função do período eleitoral, expomos a situação aos presidenciáveis a fim de alertá-los, buscando a construção de políticas públicas.
A partir de 2007, com o presidente Lula, foram iniciadas as discussões nos Ministérios. Em 2009, o Ministério da Justiça iniciou as articulações e propostas. Diante disso, intensificamos a pesquisa sobre o crack, com a elaboração de livros, discos e um documentário audiovisual “Selva de Pedra”, que colaborou para pautarmos publicamente o problema que precisa ser encarado não somente como caso de polícia ou de oferta de clínicas de internação. Com isso, conseguimos expor e ampliar os espaços de atuação, alertando as comunidades, o poder público, os empresários, os meios de comunicação, os movimentos, as organizações, os grupos sociais e os parlamentos, transitando por diversas esferas da sociedade cearense e expandindo para todo o Brasil.
Essas ações estão rendendo bons frutos, como a criação do Conselho Municipal sobre Drogas (Comad), proposto pela vereadora Eliane Novaes, que deve ser sancionado pela prefeita. Aderimos ao Pacto pela Vida articulado pela Assembleia Legislativa. Os desdobramentos se ampliam a passos largos. Em maio, a CUFA participou da elaboração do “Plano de Ações Integradas para a prevenção, tratamento e reinserção social de usuários de crack e outras drogas” junto ao Ministério da Justiça. Em resumo o plano pretende dar respostas emergenciais à situação, elaborar um diagnóstico, garantir ações integradas de mobilização, prevenção, tratamento e reinserção social, utilizando ações de informação e orientação e, ainda, formação de recursos humanos bem como o desenvolvimento de metodologias.
O crack já faz parte da vida das favelas há muito tempo. Ficamos felizes de ver o problema passar a preocupar a sociedade, em busca de soluções. Lamentamos que tenha demorado certo tempo, infelizmente porque a “pedra” levou a tragédia para os lares das classes média, alta e rica do País. É importante que a sociedade não se contente em culpar os governantes e gestores, apesar dessa crítica ser importante. E ainda os governos não devem se trancar em gabinetes para apresentar propostas. É preciso sair da conversa de encontrar o culpado e evoluir para a responsabilidade que tem que ser compartilhada e abraçada por todos, do contrário, a Selva de Pedra vai se expandir e não conseguiremos evitar a epidemia que se aproxima.
Preto Zezé - Articulador institucional
www.cufa.org.br
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