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24 de março de 2010

VEJA IDÉIAS DO EDUCADOR NILBO NOGUEIRA SOBRE PEDAGOGIA DE PROJETOS

um pouco sobre a pedagogia de projetos...


      Por que ensinar com projetos?

      Em primeiro lugar gostaria de dizer que ensinar com projetos é uma questão de opção pessoal de cada professor, que deve ter bem claro quais são suas reais intenções com este tipo de trabalho e quais são os objetivos esperados.
      Particularmente gosto de falar de algumas vantagens em se trabalhar com projetos, tais como:
·         Além de privilegiar os conteúdos acadêmicos, já que está é a maior preocupação da maioria dos professores, o trabalho com projetos ainda pode possibilitar o desenvolvimento de várias habilidades e competências, que são fundamentais nos dias de hoje para que o sujeito integre-se plenamente na sociedade. Peguemos, por exemplo, um dos segmentos da sociedade que é o mercado de trabalho, onde se espera que os colaboradores possuam: criatividade, espírito de liderança, facilidade em se comunicar, boas relações interpessoais, um bom equilíbrio emocional, flexibilidade nas ações e decisões, facilidade em aceitar desafios, etc.
      Todas estas competências dificilmente serão desenvolvidas se forem trabalhadas apenas de forma conceitual. Já em uma dinâmica com projetos, o foco de trabalho é o procedimental que ainda pode gerar o atitudinal, portanto teremos maiores chances de propiciar situações que auxiliem o aprendiz no desenvolvimento destas competências;
·         Outro fator importante a se destacar é a possibilidade de propiciar múltiplas interações ao aprendiz, que em um projeto interage com o objeto de conhecimento, com seus colegas, com a comunidade e com todas as situações do processo de construção do conhecimento. Possibilidades estas bem diferentes da passividade que presenciamos nos alunos quando estão sentados assistindo uma exposição de conteúdos meramente conceitual;
·         Com os projetos ainda temos uma possibilidade de mediar situações que envolvam a questão da interdisciplinaridade, tão importante para acabar com a fragmentação e compartimentação existentes nos processos educacionais mais formais;
·         E talvez a mais importante das vantagens é fazer com que o aluno lide (e aprenda) com a resolução de problemas, já que um projeto nasce de um problema emergente em sala de aula, na comunidade, na sociedade, etc.

-          Há alguma diferença no trabalho com projetos na Educação Infantil?  O professor deve estar atento a algo específico ao trabalhar com crianças pequenas?

      Prefiro evitar falar em metodologia para não termos a idéia de algo “engessado”, mas sim em uma dinâmica de trabalho. Dinâmica esta que envolve os mesmos procedimentos básicos tanto para a educação infantil como para o nível superior, ou seja, partimos de um problema, negociamos e argumentamos sobre o tema do projeto, planejamos as ações que queremos realizar, executamos aquilo que foi planejado, depuramos para melhorar os resultados e mudarmos hipóteses iniciais, apresentamos os resultados alcançados e avaliamos todo o processo.
      Embora com alguns procedimentos, gosto de chamar a atenção de que estes devem ser flexíveis e negociados entre os membros participantes do projeto (professores, alunos, coordenação, comunidade, etc.)para que não tenhamos uma rigidez e obrigatoriedade nestas “etapas”, que por outro lado se não existirem podem prejudicar a trajetória dos alunos que não estão acostumados com este tipo de trabalho, nem com a autonomia, que nele deve ser dada.
            O que muda na realidade são os cuidados específicos com a faixa etária, pois não se espera que uma criança da educação infantil argumente sobre o problema e o tema do projeto como um aluno do ensino médio, nem que realize um planejamento de forma estruturada estabelecendo objetivos, estratégias e coisas do tipo. Mesmo na educação infantil devemos fazer com que os alunos passem por todos os momentos do projeto (argumentação sobre o tema e o problema, planejamento, execução, depuração, apresentação e avaliação), pois é este processo que vai poder propiciar o desenvolvimento de competências e a autonomia do aluno, preparando-o para que futuramente consiga buscar formas e processos para continuar aprendendo.
 A maior atenção do professor no caso da educação infantil fica a cargo de que tudo deve ser feito de forma mais lenta e cuidadosa, ou seja, não se planeja o projeto todo, mas ação a ação, passo a passo, tendo em mente que o professor é o mediador e é ele que vai perceber o ritmo de sua turma e o quanto pode avançar no processo e no aprofundamento do projeto.  

-          É possível ensinar tudo por meio de projetos?

      A questão não é se tudo pode ser ensinado por projetos, mas sim se tudo deve ser ensinado somente por meio dos projetos.
      Creio que existem outras formas e estratégias para propiciar a aprendizagem dos alunos, portanto mesmo sendo um apaixonado por projetos, acredito que os alunos devem vivenciar as múltiplas formas de se aprender, onde o projeto é apenas uma dela.
      Especificamente se tivermos falando de “ensinar por meio de situações problemas” ou “ensinar por meio da pesquisa” creio que o projeto pode ser uma das melhores concepções a ser utilizada.
      Anteriormente falei da necessidade de se trabalhar com os conteúdos de forma procedimental e atitudinal e colocava isto como uma possibilidade dos projetos, mas a forma conceitual nunca deverá ser excluída do processo educacional. Ela existe, é necessária e pode ser abordada até por meio dos projetos.
      Então, mesmo não trabalhando com projetos, e sim de forma expositiva e conceitual, estaremos também utilizando uma das múltiplas possibilidades de auxiliar no desenvolvimento do conhecimento de nossos alunos e creio que o aluno deverá vivenciar todas elas e não só apenas os projetos.

-     Quais são os equívocos mais comuns cometidos por professores ao trabalhar com projetos?
     
      Com toda boa vontade do mundo, alguns professores acabam fazendo aquilo que deveria ser feito pelos alunos. Por exemplo, embora o projeto não seja do aluno nem do professor, mas sim de ambos, o professor deverá realizar um planejamento operacional e gerencial do projeto, ou seja, estabelecendo os objetivos, as disciplinas envolvidas, os possíveis recursos materiais e humanos etc., ao passo que os alunos devem planejar as ações do que querem fazer, como querem fazer, quando vão fazer, etc.
      O professor não deve planejar, por exemplo, se a maquete deverá ser de isopor ou de argila, se o cartaz vai ter purpurina ou não, se quem vai apresentar é o João ou o José. Estas ações são planejadas pelos alunos, que devem conquistar autonomia suficiente para isto.
      Portanto um dos maiores equívocos que tenho presenciado está no estabelecimento dos papeis dos diferentes atores do projeto.
      Se o professor planejar as ações básicas dos projetos, eles correm o risco de se tornarem “tarefas”, pois os alunos vão apenas realizar aquilo que foi planejado pelo professor e não vão estar mais imbuídos no conceito de projetos (do latim projectum = jogar para frente) ou seja, projetar, sonhar com algo a ser realizado.
      Outro equivoco é que ou se trabalha com projetos ou se trabalha com os conteúdos acadêmicos, pois na crença de alguns professores isto não pode acontecer de forma conciliada.

       
-          Como deve ser feita a avaliação quando se trabalha com projetos?

      Como já comentei anteriormente, uma das vantagens do projeto é a possibilidade de propiciar meios para o desenvolvimento de múltiplas capacidades (habilidades, competências, inteligências múltiplas, etc.) no aprendiz e, em se tratando disto não podemos imaginar que: com uma avaliação quantitativa, do tipo múltiplas alternativas, poderemos mensurar o quanto o aluno “aprendeu” sobre liderança, criatividade, equilíbrio emocional, expressão corporal, etc.
      Nos projetos temos que pensar mais na perspectiva qualitativa de como o aluno se apresentava antes do projeto e depois dele, fornecendo um feedback daquilo que ele aprendeu ou como se desenvolveu e não simplesmente mensurando, quantitativamente, aquilo que ele não aprendeu.
      Uma das estratégias para este caso é a utilização de um processofólio, que nada mais é do que uma pasta onde cada aluno registra tudo o que aconteceu durante o processo do projeto. Nesta pasta o aluno coloca seus planos iniciais, suas dúvidas, seus problemas, suas concepções, suas descobertas, as novas hipóteses, seus rascunhos, seus projetos futuros, as maiores dificuldades, o que mais gostou, etc.
      Terminado o projeto, todos (alunos, pais, professores, etc.) podem verificar como foi a evolução do aluno na resolução de uma problemática inicial. Mais importante ainda é a possibilidade de verificar, ao final do ano letivo, como foi a evolução desde o primeiro projeto até o último.

-          O trabalho de pesquisa é uma fase importante do desenvolvimento de um projeto. Como contornar a situação quando a escola carece de recursos – como livros, jornais e acesso à internet?

      É claro que quanto mais material disponível para pesquisa, maior será a possibilidade de ter inúmeras informações, porém não podemos esquecer que informação só não basta, pois ela não significa conhecimento.
      De que adianta ter Internet, realizar a impressão de centenas de folhas com informações sobre um dado assunto, se ao final não se trabalhar, articular, separar, classificar, depurar estas informações, tentando desta forma produzir algum tipo de conhecimento?
      Então, o importante é o que se faz com as informações e não a diversidade de materiais disponíveis na escola para adquiri-la.
      Na falta de recursos matérias na escola (livros, internet, etc.) temos que indicar outras alternativas aos alunos, pois algum conhecido, um parente, um vizinho pode possuir um jornal, um livro ou até a internet. Além destes recursos materiais disponíveis fora da escola ainda podemos contar com a comunidade (interna e externa) indicando aos nossos alunos que conversem ou entrevistem pessoas que possam lhes informar a respeito do conteúdo do projeto.
      Sem dúvida os recursos materiais são importantes, mas não fundamentais, pois já presenciei projetos fantásticos realizados na “folha de pão” e outros sem grandes significados que foram apresentados em um computador pentium 4.

-          Como os conteúdos curriculares são encaixados no projeto? Primeiro são definidos os conteúdos, para só depois pensar no projeto?

      Infelizmente ainda os conteúdos são definidos para depois tentar ir “encaixando” os projetos no meio do caminho. Ainda vivemos uma concepção conteudista e romper com esta crença não é trabalho fácil e que se faz do dia para noite.
      Uma coisa é o ideal outra o real.
      O ideal seria que a partir de um problema estabelecêssemos o projeto e neste fossemos introduzindo as disciplinas que por sua vez trariam seus saberes a serviço deste projeto, mas trabalhar desta forma ainda parece ser algo utópico quando temos os pré-requisitos, a seriação e o vestibular que é o maior fantasma para arraigar a crença de que conteúdos conceituais são as coisas mais importantes do processo educacional.
      Vivemos ainda a crença de que o conhecimento se dá de forma linear, em cadeia (concepção cartesiana) e por este motivo ainda acreditamos nos pré-requisitos, na seriação e na utilização totalmente linear do livro didático. O dia que todos acreditarem e incorporarem uma concepção de conhecimento como rede de significados, aí sim quem sabe poderemos trabalhar com os projetos de uma outra forma.

-         Por que há ainda professores que resistem a trabalhar com projetos?

      Imagino que porque nos projetos o professor não tem mais o papel de detentor de todo o conhecimento, já que existe um problema o qual deve ser investigado, pesquisado e resolvido por todos os envolvidos, inclusive por ele próprio.
      O Projeto abala a “comodidade” e “segurança” de entrar na sala de aula sabendo exatamente tudo o que vai acontecer, pois o exercício, o exemplo, a tarefa e até a piadinha que já foram planejadas previamente não serão mais utilizadas quando a aula possui uma perspectiva de resolução de problemas, de algo desconhecidos por todos, até mesmo pelo professor.
      Outra grande resistência diz respeito a imaginar que o projeto será um “serviço a mais”, pois além de todos os conteúdos, além de todos os afazeres pedagógicos, o professor ainda terá que fazer também o projeto. Enquanto não acreditarmos que o projeto pode estar a nosso serviço e não como “serviço a mais” ainda encontraremos algumas resistências em sua prática.
      E por fim, trabalhar com o “novo” ainda é sempre preocupante para aqueles que já conhecem e dominam todos os conteúdos acadêmicos e acreditam que é mais fácil dar conta de 100% dos conteúdos, mesmo que somente de forma conceitual, independente dos resultados. Nestes casos me parece que o compromisso está com a parte burocrática da escola e não com a parte pedagógica.

-  Os alunos, muitas vezes, ficam receosos em quebrar sua passividade nas aulas. Como conseguir que os alunos “comprem” a idéia do professor que deseja utilizar projetos?
     
      Da mesma forma que qualquer ser humano possui receio quanto ao novo, os alunos também agem desta forma com os projetos, pois ainda não sabem que ele pode propiciar uma autonomia de pensar, agir, descobrir, aprender, etc.
      Como alguns projetos são apresentados como tarefas e valem notas, então “é melhor ficar sentado ouvindo a professora do que ter que fazer mais esta “tarefa”, pois pelo menos sentado e passivo não tenho tanto trabalho para entregar.”
      Creio que a resistência está mais nos alunos de ensino médio que se preparam para o vestibular, pois lhes foram passadas várias crenças de que para entrar na universidade eles precisam saber todos os conteúdos acadêmicos. Parece que ainda não contaram para estes alunos que muitas universidades já estão mudando as suas “provas”, exigindo do candidato algumas habilidades e competências além dos conteúdos conceituais, e que estas capacidades não se adquirem apenas decorando todos os conteúdos.
      Enfim, creio que é tudo uma questão dos modelos mentais vigentes nos alunos, e que como tal, podem ser mudados, quando apresentados os projetos com todas suas vantagens e possibilidades.

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