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Racismo na escola PDF Imprimir E-mail
18 de novembro de 2007
maruboNatália tem só 9 anos, mas já conhece o peso do preconceito. Sua cor de pele e seus cabelos afros são alvos constantes de piadinhas entre os colegas. “Eles (os colegas) ficam me chamando de cabelo de pixaim, falam ‘o sua negra desarrumada’, e outras coisas”, conta ela, timidamente. A estudante diz que sua mãe lhe ensinou a não se importar com o que os outros disserem sobre sua cor. “Ela disse que se a gente fica zangada, eles xingam mais”, observa. Indagada sobre o que faz para superar essa questão, Natalia não titubeia: “tiro boas notas, melhores que as deles”.
 
‘Cultura’ já vem das escolas, traz estudo
Coletânea baseada em pesquisas sobre educação e preconceito racial em Cuiabá demonstra, com experiências práticas, como negros passam vida escolar
ALECY ALVES Diário de Cuiabá
Enquanto a legislação assegura que todos os seres humanos são iguais, independente da classe social, cor ou credo, como previsto nos artigos 5º e 7º da Constituição Federal e da Declaração Universal dos Direitos Humanos, respectivamente, a prática contradiz.
Nas escolas, em tese um ambiente de inclusão social, o preconceito e a discriminação racial contra negros extrapolam as brincadeiras de mau gosto entre alunos, na maioria das vezes, toleradas ou recebidas com indiferença pela parte ofendida.
Pelo menos é isso que demonstraram as pesquisas de dissertação de mestrado e que agora estão na coletânea de livros “Educação e Relações Raciais”, lançada semana passada pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Relações Raciais e Educação (Nepre), da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
“Tia, Qual é o Meu Desempenho?”, da mestre Vanda Lúcia Sá Gonçalves, traz as percepções de professores sobre o desempenho escolar dos alunos negros. Vanda identificou, por exemplo, que os professores classificam os alunos como “bons” e “fracos”. E que no universo dos “fracos” os negros apareceram em maior número.
Vanda Lúcia norteou sua dissertação a partir dos dados e observações feitas em duas escolas públicas sediadas em Cuiabá. De acordo com o ela, além de representar a maioria “fraca”, quando se referiam aos estudantes negros, os professores diziam “esses não têm jeito”, mesmo que se esforçassem em ensiná-los.
A pesquisadora transcreveu em seu livro o trecho de uma das experiências vividas em sala de aula. “Uma aluna branca levou o caderno até a mesa da professora para que sua tarefa pudesse ser corrigida. A professora, por sua vez, olhou calmamente a tarefa e apontou uma questão errada e a mandou ler novamente o texto, apontando o parágrafo onde estava a resposta correta. Minutos depois, uma menina negra se aproximou e, num gesto similar, entregou-lhe o caderno. A professora nem olhou para a atividade e foi logo dizendo que não perderia seu tempo com ela. Você não quer nada, pegue o seu caderno e vá sentar”, descreve a mestre.
Vanda Lúcia, pouco depois, corrigiu o caderno da aluna negra e constatou que todas as questões da atividade que a professora havia passado em sala estavam corretas. Na avaliação dela, o racismo é um dos fatores do baixo desempenho escolar dos negros.
Mestre em Educação, Vanda Lúcia acha que o professor, mesmo vivendo em uma sociedade racista, particularmente não se reconhece como racista. Esse comportamento, observa, dificulta qualquer mudança, já que para mudar é necessário, antes de tudo, admitir o racismo.
Carmelita Gonçalves não tem dúvida de que o filho dela, Mateus, de 9 anos, estava sendo responsabilizado por uma briga na escola apenas por causa da cor. “Ele estava em outra sala, junto com minha filha, e meu neto, quando um menino foi agredido no pátio da escola. Outro aluno apontou o Mateus como responsável e a professora acreditou. Insistiu em culpá-lo mesmo com minha filha e a outra professora dizendo que ele nem estava no local da briga”, conta.
Indignada, Carmelita ameaçou registrar queixa na polícia, mas desistiu da idéia depois de conversar com outros professores e perceber uma mudança no comportamento da professora e da própria direção do colégio com relação ao seu filho. “Agora, ele está sendo bem tratado, como todas as pessoas devem ser, independente da cor”, diz ela.
Na avaliação de Carmelita, quando algo de errado acontece, independente de ser na escola ou na rua, o negro é o primeiro a ser apontado como culpado ou suspeito.
Pesquisadora presencia ato preconceituoso em creche
Tânia Omada é professora na rede municipal de ensino de Cuiabá e mestranda em Educação pela UFMT. Há poucos meses, ela mudou o tema de sua dissertação por causa de um ato de preconceito racial que testemunhou na porta da creche vizinha à escola onde leciona.
No clima festivo do lançamento da coleção de livros no Nepre, lá estava ela, chorando, ao relatar o que havia presenciado à professora da Universidade Federal Fluminense, Iolanda de Oliveira, doutora em Relações Raciais e Educação, que veio a Cuiabá para ministrar palestra na 1ª Jornada de Desigualdade Raciais na Educação Brasileira, semana passada.
Tânia contou que chegava à escola quando barulhos de crianças vindos da creche chamaram sua atenção. Ao voltar-se para o local, percebeu que uma pessoa da creche recebia alegremente, com beijos e abraços, as crianças que chegavam lá. De repente, ao ver que duas crianças negras se aproximavam a mulher, segundo Tânia, virou-se para o outro lado como se não tivesse percebido a aproximação dos alunos e começou a conversar com outras pessoas.
As crianças, que até então caminhavam em direção daquela pessoa, que Tânia supõe ser professora, ficaram sem saber o que fazer e se viraram para a mãe, que por sua vez, pediu para que os filhos entrassem na creche. Não houve reação por parte da mãe ao ato que Tânia considerou racista e desumano. Ela, que tinha planos de estudar as relações raciais em família, agora está pesquisando sobre o mesmo tema nas creches. (AA)
Referência no tema, professora lança “Cor e Magistério”
Referência em estudos étnicos raciais, a professora da Universidade Federal Fluminense, Iolanda de Oliveira, lançou em Cuiabá o livro “Cor e Magistério”, que traz informações e dados estatísticos sobre a composição do magistério por cor e sexo.
Para Iolanda, a sociedade incorporou no imaginário das pessoas que ser negro é ser inferior e incapaz. E para mudar essa triste realidade, diz ela, é necessário que as famílias atuem na construção da identidade negra de seus filhos. São os pais, avós, tios, irmãos que devem ensinar às crianças que o negro é um cidadão com direitos e deveres iguais aos de todas as pessoas, preparando a criança.
Os resultados das pesquisas das mestrandas cuiabanas, no entendimento de Iolanda, devem ser discutidos nas escolas, nas organizações sociais, nos poderes constituídos, além de levados a público pelos meios de comunicação de massa. Debater essas questões e tornar público o que vem acontecendo em casa, na escola, no trabalho e outros ambientes de convivência coletiva, entende ela, faz com que as pessoas reflitam sobre seus atos, que avaliem seu comportamento e pode provocar mudanças. (AA)
Menina ‘responde’ com notas melhores
Natália tem só 9 anos, mas já conhece o peso do preconceito. Sua cor de pele e seus cabelos afros são alvos constantes de piadinhas entre os colegas. “Eles (os colegas) ficam me chamando de cabelo de pixaim, falam ‘o sua negra desarrumada’, e outras coisas”, conta ela, timidamente.
A estudante diz que sua mãe lhe ensinou a não se importar com o que os outros disserem sobre sua cor. “Ela disse que se a gente fica zangada, eles xingam mais”, observa. Indagada sobre o que faz para superar essa questão, Natalia não titubeia: “tiro boas notas, melhores que as deles”.
De acordo com Natália, por parte dos professores nunca sofreu nada que pudesse ser classificado como preconceito ou discriminação racial.
O que a pequena Natália sofre na escola e nas ruas, a professora Ângela Maria dos Santos constatou em sua pesquisa de mestrado e registrou no livro “Vozes e Silêncio do Cotidiano Escolar”. Ela estudou as relações raciais entre alunos negros e não-negros e diz que nesse trabalho foi possível identificar que a idéia hierárquica de raça é vivenciada no cotidiano das interações e faz com que, nessa relação, os brancos usufruam de um ambiente escolar mais favorável e menos difícil para sua inserção na escola.
“A referência negativa ao cabelo afro configurou-se como a marca fenotípica mais explicitamente mencionada nas situações de ofensas raciais”, completa ela. Na avaliação da professora, que é militante de movimentos sociais de direitos humanos e raciais, o cabelo tornou-se uma válvula de escape permitindo mais liberdade ao preconceituoso na hora de expressar suas idéias racistas sem fazer menção à cor da pele. (AA)
  FONTE:http://www.direitos.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=4215&Itemid=2

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