TEATRO
Itália, Ceará... comédia!
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O espetáculo "O Santo e a Porca", encenado pela Trupe Cangaias de Teatro, será apresentado amanhã no teatro Morro do Ouro. A peça fica em cartaz durante o mês de fevereiro, sempre às sextas-feiras
Ariano Suassuna é o autor da obra "O Santo e a Porca", escrita em 1957, que inspirou o espetáculo
3/2/2011
Com influências do teatro de improviso italiano e da cultura tradicional nordestina, a Trupe Cangaias de Teatro apresenta uma temporada de "O Santo e a Porca", adaptação de Ariano Suassuna, no teatro Morro do OuroPuxa de lá, puxa de cá, assim se resume a estética empregada pelo grupo teatral Trupe Cangaias de Teatro, de Maracanaú. Os adereços e a maquiagem foram pescadas da italiana "commedia dell´arte"; a cultura popular nordestina, foi importada dos textos de Ariano Suassuna, mas a irreverência e a molecagem vieram mesmo do Ceará.
Colhendo referências nesses vários campos, a Trupe mistura cordel, nordeste e Itália para atualizar a montagem "O santo e a porca", obra de Suassuna, escrita em 1957. O espetáculo estreia amanhã, às 19h, e fica em cartaz durante todas as sextas-feiras de fevereiro, no teatro Morro do Ouro, anexo ao Theatro José de Alencar.
Roteiro
"Nosso grupo sempre trabalha com teatro popular, teatro de rua, então o Suassuna se encaixava bem nesse perfil", comenta Carlos Shinoda, diretor do espetáculo. O grupo já tinha elaborado pesquisas em roteiros de Shakespeare e Molière, mas acharam em Ariano o texto que procuravam.
"O Santo e a Porca" é uma narrativa de humor e mistério em torno do comerciante Eurico Árabe. O vendedor guarda com zelo uma porca de madeira, onde deposita seu rico dinheiro. A história se desenrola quando Eurico recebe uma carta inesperada de Eudoro Vicente dizendo que irá "privá-lo de seu precioso tesouro". O sujeito, inocentemente, se referia à filha de Eurico, mas para o vendedor apenas uma coisa lhe vem à cabeça: "vão me tirar a porca"!
A peça é uma livre adaptação do livro de Ariano Suassuna, que, por sua vez, é baseado em outra comédia: "Aulularia" ou "Comédia da Panela", escrita em 194 a.C. De autoria de Plauto, a narrativa secular também falava de um avarento que fazia de tudo para guardar uma panela cheia de ouro.
"O livro não foi trabalhado de forma integral porque era muito grande, escolhemos manter o foco na pessoa de Eurico Árabe", revela o diretor. Ao longo da montagem, o grupo faz críticas à sociedade contemporânea, à busca da felicidade e ao consumismo. "Mexemos com esse universo mercantil, pensando o ator como também um comerciante. Primeiro mostramos ao público quem somos: vendedores de sentimentos. Depois, mostramos o produto, e, por fim, vendemos para a plateia", teoriza Carlos Shinoda sobre a filosofia do espetáculo.
Companhia
Essa é uma das primeiras peças do currículo da Trupe Cangaias de Teatro, com sede em Maracanaú, município da Região Metropolitana de Fortaleza. O grupo já existe, no entanto, há pelo menos cinco anos, surgido do Movimento Social de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase.
"Trabalhávamos apenas com teatro informativo, divulgando para as pessoas o conceito e os tratamentos da Hanseníase. Há pouco tempo expandimos nosso trabalho para outras linguagens e roteiros de teatro, depois que nos tornamos um Ponto de Cultura", explica o diretor.
O trabalho com temas ligados à área da saúde levou o grupo a manter a observância dos hábitos da sociedade e a crítica social, como constantes em seus espetáculos, o que se tornou uma marca da companhia. "A gente acredita no teatro como uma ferramenta de transformação social, queremos sempre passar uma mensagem, além de fazer rir", afirma Carlos.
Em outubro do ano passado, durante o Festival de Teatro Amador de Acopiara (Fetac), o espetáculo "O Santo e a Porca" conquistou três prêmios dos nove a que foi indicado. "Concorremos com seis outras peças, nos indicaram aos prêmios de melhor conjunto cênico, iluminação, direção... Ganhamos os prêmios de melhor maquiagem, ator e espetáculo pelo júri popular", comenta Carlos.
O diretor acrescenta: "ficamos felizes com as premiações porque a maquiagem é uma marca da referência da "commedia dell´arte", significa que empregamos bem a referência. E ganhar como melhor espetáculo pelo júri popular é tão bom quanto pelo júri técnico. É muito gratificante".
Para este ano, além das apresentações no Morro do Ouro, a Trupe Cangaias já começa a montar um novo espetáculo, com previsão de estreia ainda para o primeiro semestre. Ainda pesquisando, o diretor não pode adiantar muito, mas revelou: será um texto inédito de Augusto Boal, o pai do engajado Teatro do Oprimido.
Fique por dentro
Commedia dell´arte
A estética teatral conhecida por "commedia dell´arte" nada mais é do que o teatro de rua improvisado que se desenvolveu na Itália e na França do século XV. Esta forma de teatro influencia muitos espetáculos ainda hoje, principalmente no nordeste. As peças, apresentadas nas praças, eram baseadas em temas convencionais como adultério, avareza, ciúme e amor.
Os diálogos poderiam ser atualizados para satirizar com a sociedade do lugar, incluindo referências aos hábitos, escândalos ou manias locais. As principais características dos integrantes eram os figurinos, as máscaras e a maquiagem. Da commedia dell´arte surgiram famosos personagens, como o Pantaleone, o Arlequín e a Colombina.
MAIS INFORMAÇÕES
Espetáculo "O Santo e a Porca", da Trupe Cangaias de Teatro. Dias 4, 11, 18 e 25 de fevereiro no Morro do Ouro (anexo ao Theatro José de Alencar), às 19h. Ingressos: R$ 6 (inteira) e R$ 3 (meia). Indicação: 12 anos. Contato: (85) 3101.2583
MAYARA DE ARAÚJOREPÓRTER
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