O filme A Voz do Coração, que tem título original em francês Les Choristes (Os Coristas), conta a história de um professor de música, Clément Mathieu (Gérard Jugnot), que encontra emprego em um internato como inspetor. Ao chegar, Clément se depara com um grupo de meninos oprimidos por um severo diretor, Rachin (François Berléand), que usa inclusive violência física como forma de punição para as muitas traquinagens das crianças. Sem concordar com os métodos usados pelo diretor e professores, que diziam que toda ação leva a uma reação, o novo inspetor acoberta as atitudes dos meninos, tornando-se cúmplice deles. Depois de ter seu armário arrombado e suas partituras pegas, Clément tem a idéia de quebrar uma antiga promessa e voltar a fazer música. Assim, ele faz daqueles rebeldes meninos um talentoso grupo de coristas, que se aperfeiçoa a cada dia.
É através da música que Clément consegue mudar a vida de meninos que não tinham liberdade para fazer nada de que gostassem sem receber uma severa punição. Cantar se torna uma maneira de fugir de sua realidade, de suas esperas e tristezas. Para o revoltado Pierre Morhange, por exemplo, que surpreende por sua belíssima voz, esta experiência no internato representa uma mudança de vida muito grande, e é através da música e da ajuda de Clément que ele descobre quem é de verdade. Para os meninos, Clément representa a única chance de levar uma vida diferente dentro do internato, e isso não só através da música. Assim como eles, o inspetor mostra que também tem tendência a quebrar algumas regras, principalmente se for para o bem de seus alunos. O que o novo inspetor mostra para todos é que tudo o que aqueles meninos precisam é de uma oportunidade de fazer algo diferente, que lhes dê prazer sem que suas ações precisem de reações violentas. Clément consegue mudar a visão que os professores têm dos meninos, para assim contar com a ajuda deles para dar continuidade ao coral.
A Voz do Coração é um filme tocante porque mistura sentimentos diversos, como amor, afeição, carinho, ódio, raiva e solidão. Todos eles se misturam e aparecem em um ambiente extremamente impessoal, que é o internato, que nem parece abrigar crianças cheias de talento e força de vontade. Sufocados pela autoridade do diretor Rachin, que não lhes dá liberdade para fazer nada de que gostam, os meninos acabam se revoltando e cometendo atos que não fazem parte de sua personalidade. Seus talentos são abafados e seus poucos momentos de felicidade podem ser abolidos por um pequeno deslize. É neste momento que aparece Clément, com sua boa vontade e paciência com seus alunos. Ele decide lhes dar uma chance de descobrir quem são de verdade, de fazer aquilo de que realmente gostam e em que são bons. A música pode até não se tornar a coisa mais importante de suas vidas no futuro, mas foi por causa dela que eles se libertaram de muitas de suas angústias. Clément e Rachin são extremos opostos - o primeiro representa a bondade, a segunda chance, enquanto o segundo representa todo o descaso de algumas pessoas para com outras. A falta de diálogo com os alunos por parte de professores e do diretor fica muito evidente nos momentos em que Clément tenta se comunicar com os meninos. A repressão que sempre sofreram por fazer o que lhes agradava faz com que eles se tornem pessoas fechadas à conversa. Para compensar isso, eles assumem atitudes violentas, que mais tarde acarretarão em castigos.
Aparentemente, o filme não se apresenta como uma grande inovação cinematográfica, não possui um enredo muito diferenciado e não agradou muito à crítica, apesar de ter sido sucesso de público na França. Não possui efeitos especiais nem mistérios a serem resolvidos, e é por isso que ele é tão bom. Sua história é simples, não exige grandes interpretações, é um filme sobre relações humanas, sobre as maneiras diferentes como as pessoas se portam. A Voz do Coração demonstra que ações levam sim a reações, mas que os caminhos que elas podem seguir são diferentes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário