POSTS RECENTES

10 de julho de 2012

UM RECADO AOS CURSOS DE MESTRADO E DOUTORADO


EXAME DE ADMISSÃO AO DOUTORAMENTO
Quando eu era professor universitário, fui nomeado presidente de uma comissão que iria examinar os candidatos ao doutoramento. Uma longa lista de livros havia sido preparada com antecedência , livros que os candidatos deveriam estudar. Aí no dia do exame eu tive uma ideia que submeti aos meus colegas e eles concordaram. Em vez de inquirir os candidatos sobre ideias dos outros escritas nos livros, ideias que nós já conhecíamos , por que não pediro que eles falassem sobre suas próprias ideias? Falando sobre suas ideias teríamos condições de conhecê – los melhor. Assim, quando o candidato passava pela porta da sala de aula, trêmulo, esperando as terríveis perguntas sobre bibliografia , eu lhe pedia: “ Por favor, fale – nos sobre aquilo que você gostaria de falar...” Pensei que isso seria uma felicidade: falar sobre aquilo que pensavam! Foi não. Foi um choque. De tanto ler o que os outros pensavam, eles se haviam esquecido daquilo que eles mesmos pensavam. Uma jovem entrou em surto, achando que se tratava de um truque. Poucos tiveram ideias sobre o que falar. O que nos levou a pensar que talvez seja isso que acontece: de tanto  ler as ideias dos outros , os alunos se esquecem de que eles também podem pensar e que seu pensamento é importante. Excesso de leitura pode fazer mal à inteligência. Com o que concorda Schopenhauer: “ É o caso de muitos eruditos : leram até ficar estúpidos. Porque a leitura contínua retomada a todo instante, paralisa o espírito...” E, em oposição àqueles que ensinam leitura dinâmica , Schopenhauer afirma que a leitura só é boa quando é bovina , quando leva à ruminação.
( RUBEM ALVES, in Ostra Feliz não faz pérola, São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2008)

Nenhum comentário: