Educação Por que eles desistem de ser professores
Igor Silveira
Edilson Rodrigues/CB/D.A Press |
Salários ruins, condições precárias de trabalho e falta de reconhecimento social são alguns dos fatores apontados pelos profissionais para deixarem as salas de aula e tentarem outros caminhos
Essa foi a justificativa usada por Igor Otero, 27 anos, ao trocar, no quarto semestre, o concorridíssimo curso de publicidade na Universidade de Brasília (UnB) pelo de história na mesma instituição de ensino. Ele queria ser professor. O jovem não hesitou nem mesmo diante dos prognósticos pouco animadores que ouvia constantemente sobre a escolha. Formado, ingressou na rede pública de ensino, passou por escolas privadas, mas sucumbiu a uma situação recorrente entre os profissionais que escolhem seguir no sistema educacional brasileiro. Abandonou as salas de aula e a vida acadêmica. Os motivos são os mesmos apontados por tantos outros professores: falta de estrutura para trabalhar e baixa remuneração.
Um levantamento divulgado pela Fundação Carlos Chagas corrobora com as dificuldades na área da educação. Somente 2% dos alunos entrevistados têm a pedagogia ou alguma licenciatura como opção principal no vestibular. “O cotidiano atual do professor, em geral, é muito sofrido. São muitas aulas, salas completamente lotadas, desrespeito por parte dos alunos, falta de reconhecimento social, salários ruins e estrutura física comprometida. É um calvário”, desabafa Otero.
Há um ano, o historiador decidiu prestar concurso público e, atualmente, ganha a vida na seção de Classificação Indicativa do Ministério da Justiça. “Na minha opinião, os salários e as condições de trabalho dos professores deveriam ser suficientemente interessantes para que uma boa parte dos melhores alunos se sentisse atraída pela carreira de magistério. Não é assim. A opção de ser professor tornou-se portanto uma alternativa para aqueles que não conseguiram se estabelecer em outro emprego. Isso acaba atraindo pessoas desmotivadas e despreparadas para as salas de aula”, critica.
A secretária de Educação Básica do Ministério da Educação (MEC), Maria do Pilar, ressalta que o governo federal tem investido em ações para estimular profissionais a seguirem a carreira de professor, mas admite que as iniciativas têm efeito a longo prazo. De acordo com ela, o ministério trabalha na área de formação de profissionais capacitados. Maria do Pilar destaca ainda a aprovação de um piso salarial acima do salário mínimo.
“Isso já é estimulante, mas é claro que o salário precisa melhorar. Essas medidas não têm efeito imediato porque a educação é uma área muito complexa. Por isso, uma política continuada é fundamental e são necessários mais investimentos”, diz a secretária. “No Plano Nacional de Educação, temos uma meta de equiparar o salário inicial de professor com o de outras profissões, como a de engenheiro e jornalista”, completa.
Abatimento
Uma das alternativas encontradas pelo MEC para levar profissionais às salas de aula é abater 1% da dívida do Programa de Financiamento Estudantil (Fies) a cada mês que o beneficiado pelo programa trabalhar na rede pública de ensino. Há outras iniciativas partindo também de instituições privadas.
A cena pitoresca de alguns alunos andando de meias pelos corredores de uma escola da fria Helsinki, capital da Finlândia, é uma demonstração clara de que a educação não tem nada a ver com repressão. Vestidos da maneira que acham mais confortável, meninos e meninas assistem compenetrados às aulas em salas de aula com poucos estudantes, professores bem capacitados — todos, sem exceção, independentemente do curso que ensinam, precisam ter, pelo menos, mestrado — e estrutura física invejável. Os velhos quadros- negros, rabiscados com giz, foram substituídos por plataformas interativas, que lembram iPads gigantes pendurados nas paredes.
Apesar da aparente perfeição, o sistema educacional finlandês também tem seus problemas, incluindo a reclamação dos profissionais por salários maiores e o crescente número de ocorrências de bullyng. Então, por que a carreira de professor continua sendo uma das mais respeitadas do país? Por que somente 10% dos que aspiram um emprego na área conseguem? Esse fato, aliás, leva o governo finlandês a afirmar que, também por isso, somente os melhores e mais motivados profissionais são escolhidos, garantindo a qualidade do ensino.
De acordo com a vice-diretora-geral do Departamento de Comunicação e Cultura do Ministério do Exterior da Finlândia, Piritta Asunmaa, isso pode ser explicado por fatores como tradição, reconhecimento social e orgulho em exercer a profissão. Os resultados são latentes e a Finlândia se mantém, há muitos anos, nas primeiras colocações na classificação das provas do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa). O Pisa é um programa de avaliação comparada, desenvolvido e coordenado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), com o objetivo de avaliar as políticas desenvolvidas dos países participantes.
A comparação entre Brasil e Finlândia é perigosa por uma série de fatores que diferenciam os dois países. No entanto, a simplória explicação de que a remuneração dos professores finlandeses é suficiente para mantê-los em sala de aula não basta. A média salarial desses profissionais é de 3 mil euros e a variação mesmo para quem trabalha nas universidades não é tão grande. E as reclamações por parte do sindicato dos professores de lá existem e não são poucas. Ainda assim, a profissão é uma das mais citadas entre os alunos quando são perguntados em que gostariam de trabalhar.
Lá, a maioria esmagadora das escolas são públicas e mesmo as particulares também são subsidiadas pelo governo. Isso acontece porque elas são instituições sem fins lucrativos e essa questão recebe uma rigorosa fiscalização. Todo o lucro obtido por essas instituições é, necessariamente, investido em melhorias na própria educação dos alunos. Mesmo sem abundância de recursos naturais, a boa formação de profissionais e excelente educação garantem à Finlândia um dos melhores índices de qualidade de vida do mundo. A Nokia, empresa líder mundial em comunicação móvel, por exemplo, é finlandesa. A indústria de design do país também está entre as mais elogiadas do planeta. Até mesmo o joguinho Andry Birds, que virou febre entre os usuários de iPhone e iPad e passou alguns meses entre os mais vendidos da loja virtual da Apple, foi desenvolvido por designers finlandeses. Os cidadãos da terra do papai noel garantem: tudo isso vem da educação oferecida no país. (IS)
*O repórter viajou a convite da Embaixada da Finlândia no Brasil
Uma política continuada é fundamental e são necessários mais investimentos (…) Temos uma meta de equiparar o salário inicial de professor com o de outras profissões, como a de engenheiro”
Maria do Pilar, secretária de Educação Básica do Ministério da Educação
A opção de ser professor tornou-se uma alternativa para aqueles que não conseguiram se estabelecer em outro emprego. Isso acaba atraindo pessoas desmotivadas e despreparadas para as salas de aula”
Igor Otero, ex-professor
Fonte: www.correioweb.com.br

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