Corre uma mensagem na internet que recomenda mais cuidado com os pensamentos, que viram palavras, que por sua vez viram atos, que viram hábitos, que formam o caráter do qual depende a vida. E na gleba da vida, tudo o que se plante colhe-se. Daí a importância de sabermos selecionar as boas sementes, para uma boa colheita, pois o bem e o mal, desde que regados, vão encher nossos celeiros.
Recolheremos da vida espinhos ou flores que semearmos. A vida é uma câmara de eco, onde o grito volta aos nossos próprios ouvidos. Pensamentos, sentimentos, palavras, atos e hábitos saem de nós para nós mesmos. Não é à toa que o Nazareno adverte sobre os pecados por pensamento. Na medida que alcançamos os outros com as nossas emissões mentais, positivas ou negativas, os outros também nos alcançam com as suas. Tanto o mal como o bem se propaga com a mesma intensidade com que são praticados.
Políticos astutos, que se acham os gênios da enganação porque driblam a própria sombra e escarnecem os que tombam nas tramas urdidas por eles, terão que percorrer os mesmos trechos de decepções e desespero nos quais empurraram suas vítimas. A temida guilhotina, que decepou milhares de cabeças na Revolução Francesa, foi a mesma que decapitou o seu inventor, Guilotin, e o seu executor Robespierre. Todos os tiranos findaram enredados na própria teia da tirania que teceram para os outros.
Os homens que praticam a sua justiça terminam justiçados por ela. É a lei do retorno que levou o Cristo a recomendar: “Façais aos outros o que quereis que os outros vos façam”, acrescentando: “Com a mesa medida com que medirdes sereis medidos.”. E diante do apóstolo Pedro, que ameaçou com a espada o guarda romano Malco que o prendera no Horto, ele, o justo por natureza, advertiu: “Pedro, embainha a tua espada, porque quem com a espada matar pela espada perecerá.”
Não sorriam, portanto, os ardilosos gozadores do poder temporal com as rasteiras que dão nos outros, inclusive naqueles pelos quais foram ungidos de vantagens e benefícios noutros tempos. A hora da verdade soará, mais cedo ou mais tarde. Conta a lenda que Caronte, depois de roubar a Caixa de Pandora, foi condenado por Zeus a transportar os mortos de uma para a outra margem do rio do Hades. Dividiu a tarefa com o irmão gêmeo Corante, a quem afogou nas águas ao descobrir-se enganado na partilha das vantagens que antes dividiam. Desde então o rio se tingiu de sangue – ou seja, o rio por onde navegam, pressurosos, os pescadores de águas turvas.
*Wanderley Pereira é jornalista da TV Jangadeiro