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10 de janeiro de 2011

PARA REFLETIR E REPASSAR.


MUUNG E A ESCOLA QUE NÃO COMPREENDE


Muung não é da Terra. A Galáxia em que seu pequeno planeta gravita em torno de uma grande estrela é conhecida apenas por estranho nome constituído por letras e números. O próprio Muung não tem esse nome, mas aceita ser assim chamado para que mais se identifique com nomes humanos usados em nossa a Terra. Veio a Terra em missão de estudo desejando compreender como é nossa escola e porque insiste em atrapalhar a invenção da inteligência. Mostrou indescritível curiosidade sobre nosso planeta e ainda que considere muito primitivo em relação ao seu, adora fazer perguntas, nem sempre fáceis de compreender ou responder. Ainda outro dia, intrigado, começou a indagar coisas sobre a escola em nossa Terra, deixando-me quase sem resposta.

Perguntava qual a razão da divisão do tempo escolar, estranhando que aulas e lições tivessem duração uniforme.  Sabendo que existem coisas fáceis e outras difíceis de aprender, indagava porque todas as aulas, em todas as disciplinas apresentavam igual duração. Achou graça que ao invés de um programa geral da escola, cada professor, em cada disciplina possuía seu programa particular e se surpreendeu que em nenhum deles constasse a criação do espírito crítico no aluno, sua capacidade de julgamento e experiências para enfrentar a complexidade do mundo em que viviam.

Ainda muito mais estranho achou a divisão da escolaridade em anos letivos e estes em semestres, que por sua vez se fragmentava em meses. Queria saber se havia alguma base científica nessa divisão do calendário escolar e ao saber que não e que essa fragmentação se devia a simples adaptação do calendário do ano civil e não ao processo de aprendizagem dos humanos, não pode deixar de achar muita graça e sorrir com indulgência.


Indagou depois sobre a fadiga humana e interessou-se pelo que chamamos “férias escolares”.
Não foi capaz de esconder sua surpresa ao saber que a época das mesmas decorria apenas de um costume secular e não com natural cansaço de alunos e professores. Indagou sobre explicações lógicas da verificação do rendimento do aluno ao final de cada semestre ou ano e se surpreendeu ao perceber que a aprendizagem não era aferida no próprio instante em que acontecia. Mais surpreso ainda ficou ao saber que havia disciplinas escolares que se prolongavam por vários anos e queria saber se não seriam mais útil e interessante os saberes específicos se concentrarem com mais intensidade em período mais curto, criando assim vivência mais duradoura.


Achou muito engraçado a divisão do currículo em disciplinas estanques e não entendeu porque não aprender ciências na horta ou em atividades de trabalhos manuais, a língua portuguesa em textos sobre astronomia e a matemática concomitantemente com a prática de esportes. Não aceitou minha explicação de que havia aprendizagens que deveriam ser feitas, mesma que jamais se pensasse em seu uso prático.  Não compreendeu a idéia de que os programas curriculares são organizados com intuito de dar o máximo de informação e não com instrumento de provocar reflexões e capacidade de julgamento. Mostrou-se surpreso quando soube que mudou os meios de produção, os meios de comunicação e diversão, criaram-se novos serviços, a tecnologia penetrou com força na cidade e no campo, somente a escola não mudou.



Embora a maior parte de suas perguntas ficasse sem respostas, não deixou de considerar os seres humanos, ainda que primitivos em relação a eles, surpreendentemente espertos e inteligentes considerando a escola que tinham. Não acreditou que a nossa escola não tenha sido feita para limitar a criatividade e embotar pensamentos e, com sinceridade, pediu que eu cumprimentasse os seres humanos por conseguirem sair das primitivas cavernas considerando a escola que tinham.



Não tive coragem de dizer que saíram das cavernas porque naqueles tempos não havia escolas.
                              


 CELSO ANTUNES


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