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23 de dezembro de 2010

sempre, Paulo Freire


21/12/2010 -

Método Paulo Freire redireciona carreira de professora paraense 

Ascom MEC 

A vida profissional da professora Denilda Maria do Socorro Martins da Silva, 51 anos, mudou quando ela ouviu a história de Paulo Freire, um dos maiores educadores brasileiros. O encantamento pelo criador do revolucionário método de alfabetização baseado na pedagogia da libertação a fez descobrir o prazer de alfabetizar jovens e adultos. Segundo a pedagogia da libertação, conhecida e pesquisada em todo o mundo, os alunos são alfabetizados com as palavras que usam no dia a dia, sempre associando o processo de alfabetização à vida.

A transformação na carreira da professora de Belém aconteceu há oito anos, após 23 anos alfabetizando crianças. Tudo começou com o convite de uma colega para participar do Movimento pela Alfabetização de Jovens e Adultos (Mova), do governo do Pará. “Quando ouvi sobre a forma de ensino e a vida de Paulo Freire, fui me interessando, me identificando, me fascinando. Virei uma fã dele e de seu método”, revela.

Atualmente, Denilda tem 16 alunos — 15 são mulheres — entre 26 e 76 anos. Moradora do bairro Cremação, na periferia de Belém, ela dá aulas em casa, enquanto a escola é construída, de segunda a quinta-feira, de manhã. Nos outros dois turnos, ministra aulas particulares de reforço e também ensina em uma escola particular. Mas seu maior prazer está em ensinar jovens e adultos.

Para formar novas turmas, a professora faz, inicialmente, a chamada pesquisa antropológica — primeira fase do método Paulo Freire. Nesse trabalho de campo ela identifica os alunos e observa os problemas por eles enfrentados na comunidade, como falta de saneamento e violência. “Durante as conversas, eu retiro frases significativas ou um tema gerador que futuramente será usado nas aulas”, esclarece.

Muitos jovens e adultos que não sabem ler ou sabem pouco não se identificam como analfabetos. Diante disso, é preciso conhecer as pessoas para conseguir atraí-las. “Os carvoeiros, por exemplo, têm a prática da matemática, mas precisam do conhecimento de escrita e leitura para ampliar esse conhecimento”, observa. O segundo passo é levar os estudantes para a sala de aula. A partir daí, a professora começa a apresentar o tema central, desenvolvido em conversa de roda, durante a qual ela insere o conteúdo.

Após a alfabetização, os alunos são encaminhados por Denilda a uma escola tradicional. Ela envia a lista com os nomes à secretaria estadual de educação e indica a escola mais próxima do local de moradia do estudante. Quando o aluno procura a escola, a vaga está garantida. Denilda não tem ideia de quantas pessoas já formou desde 2002.

Cidadania
A coordenadora de Alfabetização e Educação de Jovens e Adultos da Secretaria de Educação do Pará, Rafaela Dias Pires, afirma que a política do estado estimula a conquista da cidadania com a mobilização pela leitura e a escrita. “O Mova, herdeiro nato do Brasil Alfabetizado, ganha credibilidade e adesões a cada exercício”, diz Rafaela, pedagoga com dez anos de experiência em educação de jovens e adultos. “Os índices de analfabetismo no Pará vêm caindo, mesmo que tenhamos ainda muito o que fazer para diminuí-los ainda mais.”

Na opinião de Rafaela, as maiores dificuldades do estado estão, principalmente, na região do arquipélago do Marajó, que registra os mais altos índices de analfabetismo. “Mas as dificuldades vêm sendo vencidas pela flexibilidade que o programa Brasil Alfabetizado oferece em seu modelo”, afirma.

Denilda diz que educar jovens e adultos é um desafio permanente. “É preciso morar e conhecer a comunidade, interessar-se pelo dia a dia do aluno, pelo conhecimento que ele tem”, salienta. “A gente conversa, se interessa e vê como formá-lo de uma maneira eficaz.”

Como problema, a professora aponta a capacitação dos educadores populares. Ela mesma gostaria de participar dos programas de formação de professores oferecidos pelos governos federal e estadual — no Mova, participa de encontros de formação todas as sextas-feiras. No entanto, o sonho de Denilda é fazer graduação em história e aprofundar o conhecimento sobre o método Paulo Freire. “Apesar das dificuldades, sou muito agradecida pela alfabetização de jovens e adultos ter surgido na minha vida. São pessoas mais velhas que têm problemas de aprendizagem, mas é muito bom ver alguém aprender”, diz. “Eu tenho uma ex-aluna que agora ensina os netos.”
fonte: CORREIO BRAZILIENSE

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