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29 de novembro de 2010

um texto para discussão e reflexão.

A Educação no Brasil

“Saiu no Estadão: os professores atuais no início de carreira ganham menos que um policial também no início de carreira. É simplesmente ridículo, não desmerecendo o policial mas a covardia dos governantes, que denigrem a imagem do professor. É muito mais fácil educar agora do que repreender depois!”
Paulo Lucas Scalli, professor de biologia da Rede ANGLO de Ensino

Da Crueldade do Vestibular


         Sempre considerei uma COVARDIA que o jovem seja obrigado a decidir, aos 16 ou 17 anos de idade, que profissão seguirá pelo resto de sua vida.
            Não vou aqui trilhar novamente o caminho – de resto brilhante e preciso – que Rubem Alves percorre com muito mais precisão e clareza do que eu: “deveriam trocar o Vestibular por um sorteio!” Tal o absurdo a que chegamos... Um dia essa excrescência merecerá o destino que lhe cabe: a lata de lixo da história!
            Coloco-me do ponto de vista do jovem (essa a raiz da palavra respeito, “ver o outro com os olhos do outro”) e vejo o cipoal de confusões em que se encontra: hormônios à flor da pele; situação cruel de quem está só e precisa, visceralmente, de alguém. Quando digo visceralmente não estou exagerando em absolutamente nada! O ser humano depende fisicamente do sexo oposto e ponto final. Esta interdependência humana é de tal sapiência que somente os poetas e místicos lhe alcançam a plenitude. Se você é jovem sabe que pensa “naquilo” pelo menos 16h por dia (nas outras oito sonha...); se já foi jovem, lembra-se de que era assim – há médicos que até mesmo recomendam esta, digamos, prática, como excepcionalmente salutar!
            Inegavelmente a prioridade máxima do jovem, do adolescente é encontrar alguém que lhe complete. Da maneira como o mundo está, contudo, em geral saem bebendo em fontes sujas, salobras, poluídas, uma após a outra, jamais se saciando. Raramente encontram aquele oásis com águas cristalinas que seria não o seu porto final, que isso não existe, mas uma rota paralela, amiga, maior conquista que o ser humano ousa almejar... Tristes tempos.
            Mas divago. Para conseguir sucesso nessa dimensão – que é a primeira no pensamento do jovem – é necessário “ter sucesso” o que, em nossa cultura e civilização esquisita, virou sinônimo de “ter dinheiro” – nada de talento, habilidades, conhecimento, agilidade, charme... Só “a água gélida da materialidade mercadológica”. Para tanto precisa transformar parte de sua capacidade laborativa em dinheiro.
            No Capetalismo as pessoas só têm o direito de escolher que parte do corpo venderão a quem, por que preço e por quanto tempo. Eu mesmo vendo a utilização do meu cérebro para Instituições educacionais durante algum tempo em troca de proventos que me permitam seguir vivo, ainda que modestamente, outros vendem os braços para a construção civil, outros ainda vendem... Bem, outras partes do corpo, com outras finalidades.
            Decidido que as partes do corpo que envolvem a dimensão da afetividade, do romantismo não serão, a princípio, utilizadas com finalidades mercantis, o jovem já terá tomado uma grande decisão – infelizmente menos freqüente do que outrora... Parte para aprimorar o seu físico – se desejar realizar-se como atleta ou desportista – ou um conjunto de habilidades – se pretender realizar-se profissionalmente como músico, ator, intelectual ou artista e assim por diante.
            Aí se volta ao problema inicial: o jovem – que raramente descobre qual é efetivamente a vocação da sua vida em idade tão tenra – nem sempre consegue conciliá-la com um dos maiores monstros do mundo contemporâneo, o tal do “mercado de trabalho”. Quem de nós, professores, ainda não presenciou a transformação de uma potencialmente talentosíssima professora, atriz, pianista ou bailarina em rude e amarga advogada ou vendedora embora talvez melhor remunerada? Ou o contrário, que não vai aqui juízo de valor quanto a esta profissão ou aquela ser “melhor” do que outra.
            Na maior parte dos casos o jovem conclui seu ensino médio emocionalmente inseguro, ainda em busca de equilíbrio particularmente na dimensão sentimental, VITAL ao ser humano; incerto quanto à sua vocação – não são raros os casos em que o jovem fala com toda a franqueza do mundo: “estou em dúvida entre engenharia e medicina” ou “estou entre nutrição e mecatrônica”... – e apavorado com o fantasma do desemprego.
            Que Futuro estamos formando para este país num quadro assim?

Professores


            Se respeito meu aluno colocando-me no seu lugar e vendo o mundo como ele o vê, gostaria que pais e alunos (e, em sendo possível, autoridades também...) se colocassem também no lugar do professor.
            Alguns que ainda vivem e respiram entre nós, sobreviventes da “Era Vargas”, de grata memória para esta Nação, “deixaram de ser juízes de direito para abraçar o magistério” ou “casaram-se com professora estadual que era uma forma de dar um golpe do baú!”
            E hoje? A hora-aula por vezes é mais barata que uma banana nanica. Guardadas as devidas proporções, compare-se uma hora de atendimento médico especializado e personalizado a uma hora numa classe abarrotada com 60 a 80 pessoas onde mal cabem 40, pouco interessados senão no “diproma”. Como respeitar as particularidades de cada ser humano envolvido no processo ensino/aprendizagem num quadro assim? Mas é bem pior! O professor estadual, em geral, precisa dar (dádiva quase que literal mesmo...) uma média de 50 a 60 aulas semanais para garantir proventos minimamente condignos. Uma média de duas aulas por turma, turmas com 60 pessoas... Lida com cerca de 2.000 (DOIS MIL) seres humanos na fase mais carente e tenra da sua formação, do seu processo de “hominização”.
            Há muito, muito mesmo a se fazer. Eu já confessei que, pobre, não consigo mesmo sobreviver com os proventos do magistério público. Nem mesmo prestarei este concurso. Até por não concordar com o encaminhamento pseudopedagógico que vem sendo dado em nossas escolas de uma década para cá sem perspectiva de reversão, principalmente no Estado de São Paulo...
            Há muito a fazer, mas se não estipularmos algumas metas a atingir, seremos movidos pelas forças cegas do mercado numa direção que nada tem de humana. A título de propostas iniciais, começaria com o seguinte:

1. Limitação no número de alunos por turma, para que o educador possa melhor acompanhar o desenvolvimento de cada um de seus pupilos e para que também não se veja lançado numa situação em que, por não haver espaço temporal à livre manifestação e criatividade de cada educando, acabe reduzido à condição de palestrante ou, no limite, repressor em seu sentido mais grosseiro mesmo. Um educador pode acompanhar bem, de perto, o desenvolvimento intelectual, moral, humano, enfim, de cada um de seus alunos em turmas de, no máximo, vinte alunos.
    Fica claro que qualquer intelectual competente é capaz de proferir palestras a verdadeiras multidões. A situação, evidentemente, é bem outra no cotidiano dos jovens estudantes. Aula é para formar, palestra, para informar.

2. Limitação na quantidade de turmas em que o educador deve exercer suas atividades. Lidar com um máximo de cinco turmas com vinte alunos em cada uma por ano permitirá ao educador acompanhar de perto, com toda a seriedade, gravidade e atenção o desenvolvimento de cada um dos cem jovens cujos nomes e características pode memorizar tranqüilamente, com rapidez e facilidade até. Este ponto fala do respeito humano que possa permitir aos alunos terem suas identidades particulares reconhecidas, ponto também fundamental numa proposta pedagógica séria.

3. Autonomia pedagógica, melhor aceitação de metodologias alternativas. Não é concebível que se trate seres humanos como máquinas. Que as instituições educacionais tenham suas próprias filosofias é compreensível. Acolher com urbanidade, reconhecimento e respeito idéias diferentes, contudo operacionais, diria mesmo que ainda mais operacionais que as anteriores, é o mínimo que a prática democrática pede às vésperas do terceiro milênio. Seguir com práticas medievais em pleno século XXI é um disparate!

4. Ponderável aumento salarial. É isso mesmo, chegamos a uma situação tão absurda que somente com propostas aparentemente "loucas" se pode reverter o quadro. Estou propondo uma diminuição na jornada de trabalho de 50 aulas semanais para no máximo 25 e uma contrapartida salarial condigna ao respeito que merece o profissional formador de seres humanos para a vida.

    Com salários melhores, com mais tempo livre, o profissional do ensino poderá dedicar-se com maior empenho a seu auto-aperfeiçoamento, exercendo um trabalho cada vez melhor.

    O que está aqui proposto, com todas as letras, em síntese, é que se coloque a ênfase no ser humano, na atividade pedagógica em si, não mais na lucratividade da "empresa" escola ou mesmo nas regras draconianas do mercado. Discutir a situação do mercado, a "corrida de lobos" da sociedade industrial é, quiçá, tema para outro trabalho. Aqui digo que mercado é uma coisa e atividade educacional é outra totalmente diferente. Dentro das atuais regras colocadas pelo mercado - daí a expressão "emergenciais" que apodo às medidas propostas - o professor precisa resgatar o seu valor mesmo. Caso se prefira um linguajar diferente, enquanto o mercado ditar suas regras, a "mercadoria" professor precisa ser melhor valorizada!

            Expondo idéias como estas em seminários a colegas professores, obtive muita solidariedade e a crítica solitária: "trata-se de um sonho, de um delírio", mas ocorre o contrário! A realidade é que se transformou num pesadelo macabro e irracional, só crível porque existente de forma material, só por esse motivo falar no racional soa como sonho ou delírio.
            De todo o modo, enquanto nosso modelo educacional estiver, como está, distanciado da Razão - embora obedeça a algum tipo de lógica que me escapa - estaremos assistindo e vivenciando o inferno dantesco da deterioração assombrosa das condições intelectuais e morais de nossa gente. Urge reverter este quadro!

Soluções para o Ensino Superior


              Arrogante subtítulo, não? Mas se alguém não começar a pensar nisso, repito, seremos movidos não pela Razão, mas pelas forças IRRACIONAIS do mercado.
            Com 16 para 17 anos o rapazinho, a mocinha, não têm, em geral, maturidade suficiente para tomar a decisão irreversível da profissão da sua vida, tomando em conta todos os condicionantes em questão (vocação, matrimônio, mercado de trabalho...). Vislumbro uma solução e a coloco, pela vez primeira, em discussão: 
            Que as Universidades dediquem de dois a três anos de formação GERAL superior; ênfase à Matemática, à Ortografia, às Humanidades, sempre com acompanhamento psicológico profissional personalizado envolvendo pais e alunos. Faço questão de ressaltar este fato pois fui uma vítima do modelo anquilosado que ainda grassa: o meu pai tinha vocação para que eu fosse “engenheiro eletrônico”. Resultado? Aos 7 anos de idade montei meu primeiro rádio, formei-me especialista em Radar de Bordo de Aviões e Centrais Telefônicas e fui cursar “Engenharia Eletrônica”. Fiz três anos na Nuno Lisboa. Vi que não me interessava – em meu pai já não estava respirando entre os vivos... – e a matemática me fascinava! Tranquei matrícula, vestibular de novo e um ano de Matemática na Universidade Federal Fluminense. A gente aprende matemática para saber mais matemática que permite resolver e aprender mais matemática num círculo vicioso sem fim! Mas Pitágoras de Samos foi Iniciado numa Escola de Mistérios Egípcia, o mesmo acontecendo com Tales de Mileto, “divulgadores”, mais que “autores”, ambos, de teoremas e teorias egípcias há muito conhecidas... Me encontrei: FILOSOFIA! Mas eu tinha de trabalhar durante o dia e os cursos de filosofia no Brasil destinam-se somente àqueles que dispõem de tranqüilidade econômica para ficar integralmente por conta de estudar o dia inteiro. Alternativamente, cursei Ciências Sociais, na mesma Federal Fluminense. Mas já estava com 25 anos quando finalmente “me encontrei”. Certo, meu caso é paroxístico. Mas para evitar casos assim ou sequer remotamente similares, sugiro uma integração entre corpo discente, corpo docente, orientação pedagógica e pais de estudantes universitários em seus primeiros (2 ou 3) primeiros anos de curso superior.
            Após estes cuidados, seguramente o jovem estará amadurecido o suficiente para a escolha da sua própria carreira.

E por enquanto?


         Enquanto o mercado rege a educação, enquanto a Razão estiver expulsa das Universidades, sugiro a meus pupilos estudar “Arquitetura”. É um curso que abre um amplo leque de opções em Ciências Humanas e Ciências Naturais. Tem-se de aprender um pouco de História da Arte, Filosofia, Física, Resistência de Materiais... Curso suficientemente eclético para que o/a jovem se encontre e possa aproveitar pelo menos alguns “créditos” de seus primeiros estudos tão logo se decida pela carreira “definitiva”...

            Lázaro Curvêlo Chaves

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