Jornal do Leitor
Pedro Cardoso
Educação de quinto mundo
Pedro Cardoso da Costa
13 Mar 2010 - 01h50min
Desde que me entendo por gente que a má qualidade da educação é tema
recorrente. Mudam-se ministros, secretários estaduais e municipais;
muda-se a nomenclatura do ensino; muda-se tudo que é superficial, só
não muda a qualidade.
Todos os profissionais alegam que falta estrutura material. Não
raro a televisão mostra alunos estudando em currais de gado. As
promessas são repetidas de dois em dois anos, no período eleitoral. Aí
a solução está na ponta da língua e com a promessa de que ``agora pra
valer.``
Com a imparcialidade da mídia a custo de suas verbas publicitárias,
os governos alardeiam feitos na educação, que só os papéis e as
estatísticas próprias veem, e as pessoas, mesmo sem acreditar numa
vírgula, não dispõem de espaço para contestação imediata.
As escolas mais parecem verdadeiros depósitos de lixo a céu aberto,
com abrangência nacional. Não existem bibliotecas e quando há algumas
raras, a gestão é desvinculada da escola, sem inteiração ensino e
literatura. Hoje, quase na sua unanimidade, alunos de ensino
fundamental completo não conseguem escrever dez palavras simplórias sem
errar cinco, no mínimo.
Cada pai, ou responsável precisaria arraigar a convicção que só com
sua participação haverá melhoria de qualidade de fato. Alunos não
recebem estímulos de que o aprendizado não atrapalha a brincadeira, a
prática de esporte, nem o lazer. Acrescenta valores. E seria o passo
inicial determinante para qualquer caminho que siga na vida.
Todos precisam colaborar um pouco mais. A disponibilidade de
dicionário na internet facilita a consulta para evitar erros de
palavras simples. Anotar algumas mais complexas no caderno para
consulta posterior, seria outra medida positiva individual. Educadores,
governantes, empresários poderiam fazer um levante contra essa inércia
generalizada, com medidas as mais diversas possíveis, para colocar a
educação nas novelas, documentários, comerciais, nos painéis de
terminais rodoviários e até nos centros populares de todas as capitais.
Nas sacolas de mercado, nos sacos de pães, nos copos, chaveiros,
calendários, tal como se faz com a seleção em Copa do Mundo. Os
jornais, os sites e as revistas poderiam criar um caderno de educação,
ou seções específicas. Rádios e tvs poderiam debater mais a educação,
como colocar jingles, como algumas fazem na prestação de serviço. E as
prefeituras, estados e União fiscalizarem mensagens em placas, faixas e
avisos fontes campeãs de erros.
Todos concordam que a educação pública é péssima, a particular é
fraca, e que tem piorado a cada ano. Todos os governos garantem o gasto
necessário, mas a realidade é que o Brasil vive na zona do rebaixamento
nas avaliações internacionais. E não seria necessário ir tão longe, mas
precisa ação urgente, com objetivo bem claro, e que as avaliações visem
demonstrar o aprendizado e não se passa ou não de série. É preciso
``calçar a sandália da humildade`` para reconhecer o desastre que é a
educação hoje no Brasil, e partir para o ataque em busca de melhoria
permanente e de forma crescente de um ano para outro.
Ao contrário do que escreveu Lya Luft na Veja de 3/2/10, ``o Brasil
tem uma educação de quarto mundo``. Ficar atrás de países como Bolívia
e Equador causa certa ``depressão`` educacional, e talvez seja o
principal motivo de não sair da cantilena e atingir qualidade no
ensino.
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