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9 de março de 2010

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UMA LEITURA INTERESSANTE

Trabalho e vida

Ao mestre, com carinho!

Luciano Melo
06 Mar 2010 - 21h31min

Recentemente, participando de um projeto social, perguntei a uma criança de aproximadamente dez anos de idade o que ela gostaria de ser quando crescesse. A resposta dela chocou-me: ``se Deus permitir, pretendo continuar trabalhando como flanelinha``. O surpreendente não foi o fato de uma garota de apenas dez anos já estar trabalhando nas ruas para ajudar a sustentar a família, já que, infelizmente, essa parece ser a realidade de grande parte de nossas crianças. O que me deixou perplexo foi constatar que aquela criança perdera completamente a capacidade de sonhar. Esse fato me fez ver com mais clareza a perversa crise social que ora presenciamos. Vivemos cercados por muita pobreza e sofrimento, porém a maior de todas as mazelas não é a miséria do corpo, mas sim, a da alma. Se desejamos uma sociedade mais justa, com menos desigualdades, onde todos possamos viver em harmonia e com dignidade, precisamos resgatar em nossas crianças a capacidade de sonhar e de se apaixonar pela vida. O artigo de hoje é dedicado àquele que, segundo o escritor Rubem Alves, é a luz do saber: O professor. ``Educar é mostrar a vida a quem ainda não a viu. O educador diz: Veja! - e, ao falar, aponta. O aluno olha na direção apontada e vê o que nunca viu. Seu mundo se expande. Ele fica mais rico interiormente``.

Diante da atual crise na educação, acredito que o grande papel dos nossos professores não é apenas transmitir conhecimentos através de métodos didáticos de ensino, mas sim, ensinar os alunos a ``enxergarem``. O verdadeiro mestre é aquele capaz de proporcionar inspiração aos seus alunos, fazendo com que possam ver o arco-íris que existe além da tempestade. Lembro-me de que, na minha época de escola, vários foram os professores que me transmitiram conhecimentos, que aos poucos foram se perdendo na seletividade do meu cérebro, ansioso por novos saberes. Porém, poucos foram os que me transmitiram a sabedoria contida na silenciosa linguagem do afeto e do amor. O conhecimento só tem sentido se nos ajuda a ver e sentir um mundo melhor. Senão, não passa de palavras jogadas ao vento que, com o tempo, desaparece como se jamais tivesse existido.

O renomado educador Paulo Freire acreditava que, através de uma pedagogia transformadora, seria possível mudar comportamentos e crenças dos alunos: ``O professor deve traduzir os ensinamentos de forma que o aluno se sinta dentro de uma inesquecível viagem e dessa maneira possa assegurar que tenham entusiasmo e paixão pelo aprendizado``. Segundo o educador, para que o professor possa propiciar a luz do saber aos seus alunos, ele precisa acender a sua própria luz, já que ninguém é capaz de dar o que não tem. É impossível que um professor chegue a despertar em seus alunos algo que ele não consegue sentir em si mesmo.

Neste momento chegamos ao paradoxo essencial: Quem irá educar os educadores? Necessitamos urgentemente de uma nova compreensão de educadores e alunos sobre a educação. A palavra compreender vem do latim compreendere, que significa: colocar junto todos os elementos. Nesse contexto, professor e aluno deverão orientar seus corações para aprenderem ouvindo e seguindo às suas inclinações mais profundas, pois só assim abriremos as ``janelas da alma``. Para entendermos essa idéia, dedico a todos os mestres, com carinho, a sabedoria de Confúcio: ``Aos quinze anos orientei meu coração para aprender. Aos trinta, plantei meus pés firmemente no chão. Aos quarenta, não mais sofria de perplexidade. Aos cinqüenta, sabia quais eram os preceitos do céu. Aos sessenta, eu os ouvia com o ouvido dócil. Aos setenta, eu podia seguir as inclinações do meu próprio coração, pois o que eu desejava, não mais excedia as fronteiras da Justiça.`` Uma ótima semana e até o próximo domingo.

Luciano Melo é consultor de empresas
trabalho@opovo.com.br

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