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1 de outubro de 2009

UM TEXTO QUE MERECE REFLEXÃO

Qual é o real papel da escola? PDF Imprimir
Escrito por Jacqueline
Qua, 12 de Agosto de 2009 00:03

Qual é o real papel da escola? Socializar. Tomando-se por base os parâmetros curriculares nacionais, os famosos (PCN’s). Pois bem, tornaremos aqui, bem claro, qual é este objetivo na realidade. A escola não assumirá pelo que vejo, o papel que tantas vezes lhe foi cobrado, se ainda, continuarmos a nos enganar. Quando nos deparamos com situações corriqueiras, em sala de aula, ali, no dia-a-dia; cara-cara com o aluno; chegamos à conclusão de que, essas teorias e conceitos são na realidade, importantes para nosso conhecimento, porém não vem de encontro ao que realmente precisamos para tentar de alguma maneira, amenizar a grave situação do ensino público no Brasil.

Não há como negar o declínio do magistério. Ser professor, infelizmente para muitos, tornou-se sinônimo de fracasso. “Professor não é profissão”. Pasmem! Eu já ouvi isso em uma palestra motivacional. “Professor é paixão, romantismo, ilusão. Você jamais será rico, sendo professor”, ouvi isto também em outra palestra. Difícil de acreditar, mas, é o que dizem por aí, os “entendidos do assunto”. Muitos, nem ao menos sabem o que é uma sala de aula. Nós, professores, batalhadores, guerreiros do dia-a-dia, sabemos muito bem o que é isso. Sala com mais de 30, 40 alunos, que na sua maioria não conhecem noções básicas de educação, bom senso e respeito, jovens extasiados, adultos cumprindo hora em troca de um certificado de conclusão do ensino médio, a fim de tentarem um aumento de míseros reais em seus salários.

Sem contar as condições precárias das escolas públicas, que não oferecem aos alunos e professores a estrutura necessária para que se tenha um mínimo de decência em dizer que estão num ambiente escolar. Descartamos o salário, pois é tão irrisória esta questão, que já virou motivo de piada, até mesmo, entre os próprios profissionais do ensino. Mas, o que me irrita absurdamente, é a posição de alguns profissionais, com relação às práticas de ensino-aprendizagem. Socializar, diz o governo. Sim, não descarto a importância deste ato. O fato é: Socializar em que sentido?

Em alguns centros educacionais para jovens e adultos pelo que vejo, o objetivo é ensinar aos nossos alunos um “ofício”. Isso é trabalhado, através de oficinas semanais, onde o aluno pratica (o que foi ensinado na teoria). Nas aulas de artes, e até mesmo em outras disciplinas, os alunos produzem trabalhos manuais belíssimos, artesanatos dignos de profissionais no assunto. Pois bem, cabe ao professor desenvolver alguma atividade prática, levando ao conhecimento do aluno, técnicas de pintura, colagem, dobraduras, entre outros, pois aproveitando o que foi ensinado, muitos podem até, obterem ganhos extras. Não estou desmerecendo aqui, os profissionais do artesanato, é de imenso valor o que mãos tão criativas proporcionam aos nossos sentidos. Esta subjetividade, este dom maior de expressar-se, é algo que não cabe a mim, ou a ninguém menosprezar, mas, seria bem mais valorizado, se o governo, dedicasse a estes profissionais, um ambiente diferenciado, investindo em centros culturais, cursos técnicos específicos, espaços dignos para exposições, entre outras melhorias.

Muitos podem até questionar agora: Há algum erro em ensinar trabalhos manuais na escola? Não há erro, deve ser ensinado, mas, fazer disso, encalce para camuflar outros interesses, realmente não faz sentido. Para se ter idéia, exatamente umas quatro ou a seis aulas, semanais, são gastas no mínimo, para a confecção destes trabalhos. E, com isso, o aluno que deveria saber sobre o que é arte, fica pintando, bordando, rindo, trocando figurinhas e potinhos de tinta, (socialização, ora!). Não sou nenhum carrasco, a escola é uma prática social, isso já é fato. Mas, podemos ir bem mais além que isso. Saberá este aluno sobre a importância das vanguardas artísticas européias? Saberá este aluno fazer uma análise de obra literária? Saberá este aluno, diferenciar um Mondrian de um monte de barrinhas horizontais e verticais? Creio que não, o tempo é curto pra isso, e, a vontade de mostrar a eles, mais curta ainda. O interesse de fazê-lo entender, que aprender, é bem mais do que, colar, pintar, dobrar... Fica de lado.

Muitos alunos que estão cursando o ensino médio, por exemplo, não sabem ainda, o que é um átomo; não conseguem diferenciar as quatro operações básicas; não se preocupam com a ortografia; apresentam dificuldades enormes na interpretação de um simples enunciado; não conseguem diferenciar as tipologias textuais... Exagero? Não. Muitos ainda não sabem conceituar o que é um verbo! E assim, vai. Quem for professor, creio que irá concordar comigo em gênero, número e grau. Sendo assim, resta-me dizer que, a escola que realmente importa, fica de lado. Pra quê o governo precisa de indivíduos pensantes e críticos? Talvez seja necessário, engrossar ainda mais, o número de “servidores”, “seres alheios”, “jovens programados”, “adultos condicionados”...

Assusta-me os resultados do IDEB. O governo preocupa-se, tanto, que já fez previsões para 2021! Vejam só...Vejam só... E, então, vem àquela velha pergunta: De quem é a culpa? Minha? Tua? Nossa? Do governo? Enquanto estivermos submetidos, alienados, calados e omissos, a culpa é totalmente nossa. A culpa é tua professor! que não mostra ao teu aluno que no mundo há outras questões a serem discutidas, analisadas... Já ouviram isso? Dizem que a culpa é sempre do professor. E o aluno? Culpado também, pois muitos não sabem nem o motivo pelo qual estão sendo acusados. Ficam alheios, apáticos e mudos, simplesmente, seguem as regras.

Enfim, ser professor como qualquer outra profissão, exige muita paixão, romantismo, vontade, interesse de fazer sempre o melhor. E, se para isso, tivermos que ir contra os conceitos a nós enfiados goela abaixo, digo e reafirmo, daqui, não retiro nenhuma vírgula, e, aos meus alunos, tento mostrar todos os dias, que eles podem fazer a diferença; podem mudar aquilo que sempre foi imposto; podem ser mais do que sequer, imaginam. O papel da escola, no entanto, é claro: Fazer pensar, interagir-se com o que acontece a sua volta; é saber argumentar quando for questionado; é tentar encontrar soluções para uma sociedade mais justa. Isso sim é socialização.

Movimentos repetitivos criam máquinas. Pensar cria idéias e ideais, e isso é o que modifica a situação de qualquer indivíduo, e, é o que realmente, ainda pode modificar o mundo.

*Em respeito a todos os profissionais, que todos os dias

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