
Nunca um nariz escorrendo ou um início de tosse gerou tanto medo em pais e mães como agora. Como parte da imprensa, reconheço que a emissão de boletins diários da pandemia é uma faca de dois gumes: informa e tira a gente do eixo. Crianças são grupo de risco, idosos, gestantes. E agora? Gripe mata. Infelizmente, gripe sempre matou, mas nunca foi notícia. Nunca foi também apresentada como uma mutação, um vírus metade humano, metade porco, algo que parece ter saído de um filme de ficção. Do que mais esse vírus será capaz? Não tenho informações científicas sobre esse novo vírus da influenza, até porque, hoje, ninguém as têm de forma definitiva. É preciso aguardar, estudar, rastrear, observar. É o que os especialistas estão fazendo.
E nós, pais, o que podemos fazer para proteger nossos filhos? Impedi-los de ir ao cinema? Ao shopping? À escola? Lembrei de uma impressionante reportagem do Fantástico nos anos 80 sobre um menino que vivia numa bolha. Eu era criança e fiquei impressionada duas vezes: com o garoto que não podia ter contato com esse indecifrável mundo dos microorganismos que nos cerca e também ao me dar conta daqueles seres invisíveis a nos espreitar o tempo todo. A impressão se diluiu com o tempo e eu não desenvolvi nenhuma fobia a microorganismos, ainda bem.
Procurei dois pediatras, um alopata e um homeopata, e fiz a eles as mesmas perguntas sobre gripe com uma única intenção: orientar pais e mães, como eu, a agir de forma saudável diante da possível doença. O que fazer?
Meus entrevistados foram Elizabeth Lira, homeopata, quaro filhos, profissional baseada no Rio de Janeiro, e Eitan Berezin, pediatra, infectologista, presidente do Departamento Científico de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria, baseado em São Paulo.
Leia abaixo a opinião dele e dela sobre gripe e a nova doença.
E saúde a todos.
O FATOR MEDO
Elizabeth, homeopata: Está acima do normal sim. É uma mistura dessa pressão psicológica, de que se está lidando com uma doença mortal, e o sentimento de culpa da mãe pela responsabilidade de cuidar do filho. As pessoas esquecem que todo inverno surgem gripes muito fortes e que sempre houve casos fatais, muitos ligados a pacientes com a saúde debilitada. A gripe chega como um fator de agravamento. Nosso sistema imunológico identifica o vírus como um corpo estranho e produz anticorpos para atacá-lo. Se o indivíduo está em boas condições de saúde, o vírus é destruído.
Eitan, infectologista: Todo mundo está assustado com as notícias diárias. Ninguém, nos últimos 50 anos, ficou lendo notícias sobre gente morrendo de gripe, o que não significa que ninguém tenha morrido de gripe nos anos anteriores. Esse vírus tem uma história diferente, mas muita informação propagada agora é fruto do conhecimento clássico da medicina. Por exemplo: gestante sempre foi mais vulnerável à gripe, tanto que, nos Estados Unidos, já estão recomendando a vacina antigripe para grávidas, apesar da polêmica envolvendo vacinas para grávidas. Essa preocupação acima do normal vai levar gente desnecessariamente aos hospitais, mas se a pessoa está preocupada, o melhor é procurar o médico mesmo. Particularmente, não acho que essa gripe seja tão mais perigosa do que outras gripes, até porque sempre considerei a influenza uma doença mais grave do que as pessoas pensam.
POR QUE UMA GRIPE COMPLICA?
Elizabeth, homeopata: Secreção acumulada pode evoluir para uma pneumonia bacteriana. Essa complicação pode surgir ainda na fase aguda da virose, ou na recaída, porque provavelmente a pessoa se submeteu a situações de risco, como choque térmico. Como o quadro infeccioso é bacteriano, não adianta mais o antiviral. Em situação normal, um jovem saudável que fica no sereno não tem nada. Mas se ele está se restabelecendo de uma gripe e pega chuva, vento gelado, está abrindo caminho para uma complicação bacteriana.
Quando a criança já come mal, e não tem reserva de vitamina, ela também fica mais sujeita a uma infecção bacteriana. O perigo, de qualquer gripe, é a recaída. Como a homeopatia estimula o indivíduo a se autocurar, eu faço o monitoramento de perto dos pacientes que aparecem com gripes fortes, febres altas. Eles vêm ao consultório três vezes por semana. Ninguém ficou internado, mesmo não sabendo de que gripe estávamos tratando.
Eitan, infectologista: Vai depender da pessoa e do vírus. O vírus da bronquiolite é o mais importante nas internações do primeiro ano de vida, dá alterações respiratórias. O influenza tem mais capacidade de causar complicações porque ele faz lesões maiores na mucosa respiratória, abrindo caminho para outras bactérias. Muitas complicações da virose são as bacterianas que vêm depois.
DIFERENÇA ENTRE GRIPE E RESFRIADO
Elizabeth, homeopata: Resfriado é um quadro mais leve, com coriza, temperatura baixa e não debilita o indivíduo. É um quadro viral, porém leve. A gripe já começa com um mal-estar. Mas até um resfriado pode complicar dependendo da pessoa.Eitan, infectologista: Qualquer um pode ser afetado por infecções respiratórias, e a maior parte é causada por vírus. Todo mundo reclama quando o diagnóstico é virose, mas é virose mesmo e existem vários tipos de vírus. O resfriado pode ser causado por vários vírus, o mais comum é o rinovírus. A gripe se caracteriza por uma piora do estado geral. O resfriado não evoluiu para uma gripe. É mais difícil distinguir resfriado de gripe em crianças pequenas, que acabam fazendo febre mesmo em resfriados. E as crianças sempre estiveram mais sujeitas às infecções respiratórias porque elas não têm história suficiente para construir imunidade.
COMO PROTEGER NOSSAS CRIANÇAS DAS COMPLICAÇÕES DA GRIPE
Elizabeth, homeopata: Cuidando da gripe desde o início, evitando o acúmulo de catarro, zelando por uma boa alimentação, muito líquido e repouso. Os cuidados antigos, tipo bota meia no pé, não pisa no chão frio, não bebe gelado…eu continuo recomendando. Não voltar pra natação se não estiver totalmente curado. Pode ser que com um ou outro não aconteça nada, mas como médica eu faço todas as recomendações de segurança. Manter contato com o pediatra, contar como está evoluindo a gripe. Oferecer muita água porque um dos grandes perigos é o acúmulo de catarro. Existem fitoterápicos que ajudam a fortalecer o sistema imunológico (ela cita tinturas ou extratos de echinacea, guaco, raiz de lótus, além de vitamina C e própolis). Isso não vai impedir que alguém pegue uma virose, é para a criança ter um suporte melhor e reagir ativamente se houver a entrada de algum vírus. Criança bem alimentada tem mais chance de responder bem. É o momento também de enfatizar as recomendações de higiene como prevenção. Ensinar a não beber da garrafa ou do copo do colega, lavar as mãos, usar o álcool gel. Agora, se pegou gripe, vamos cuidar.Eitan, infectologista: Todos os anos há vírus circulando. É meio inevitável pegar. Este ano tem um vírus novo, que é variante da influenza. Mas há medidas de proteção. Crianças amamentadas ao seio materno por seis meses ou mais estão mais protegidas. Há vacinas também que ajudam a prevenir infecções bacterianas mais graves, como a vacina para pneumococos. Não fumar em casa ajuda a proteger os pequenos. O fumo domiciliar prejudica muito a saúde das crianças. Ambientes devem estar bem arejados. Escolas e creches são espaços mais sujeitos a infecções, no entanto, só até a criança desenvolver imunidade. É normal até os 5 ou 6 anos uma criança ter umas seis viroses por ano. Você vê o nariz escorrendo por toda parte. Tem também a vacina para influenza que ajuda a prevenir contra infecções do vírus daquela vacina. O problema é que, como tem outros vírus circulando, o efeito dessa vacina não é tão facilmente perceptível. Mas eu digo o seguinte: não estou assustado, nem um pouco.
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