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Luta de classes na educação
André Haguette
02 Mai 2009 - 15h21min
Tenho na minha frente um informe publicitário do governo federal listando os “programas que estão transformando a educação do nosso país”. Trata-se do “Plano de Desenvolvimento de Educação (PDE)” que “reúne as ações do governo federal que mudam o retrato da educação brasileira. Seu maior desafio é assegurar educação de qualidade para 60 milhões de crianças e jovens que freqüentam nossas escolas e universidades”. A peça publicitária é verdadeira: os programas existem e merecem elogios; mencionemos alguns que dizem respeito ao ensino básico: formação de professores - Nova Capes, Brasil Alfabetizado, Brasil profissionalizado, Ideb, Prova Brasil, Provinha Brasil, Livro Didático no Ensino Médio, Fundeb, Ensino Fundamental de Nove Anos, Expansão das Escolas Técnicas Federais, Livro Didático no Ensino Médio. Não há como dizer que o governo Lula, bem como o governo de seu antecessor, FHC, pouco fizeram pela educação, o mesmo devendo ser dito dos governos cearenses de Tasso, Lúcio e Cid. Muito fizeram e muito está se fazendo pela educação pública. Mesmo assim e infelizmente não se pode concordar que esses programas e outros estejam “transformando a educação de nosso país” e que “mudam o retrato da educação brasileira.”
Hoje mesmo estão estampados na mídia os resultados do último Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). São os resultados de sempre; eles se repetem ano a ano, diz Reynaldo Fernandes, presidente do instituto do MEC responsável pelo exame, que acrescenta: “Nenhuma prova mede só a qualidade da escola. Mede a do aluno, a da formação dos pais e o contexto socioeconômico”. E quais são esses resultados que se repetem de ano a ano, independentemente dos bons programas criados por sucessivos governos? A enorme desigualdade entre as escolas particulares e as públicas. As escolas públicas “convencionais” - aquelas que não são técnicas, militares, de aplicação, etc. - conseguem uma classificação muito inferior à das escolas privadas. A melhor escola pública convencional obteve apenas a 1.935ª nota mais alta do país! As escolas particulares e públicas do Nordeste obtêm as notas mais baixas. No Ceará, não há nenhuma escola pública convencional ficou entre as 100 melhores. Traduzindo em bom português: a escolaridade e a riqueza dos pais fazem com que seus filhos tenham um melhor desempenho no Enem do que os filhos de pais carentes. Há um abismo entre as classes sociais no Brasil e a educação escolar é, ao mesmo tempo, sinal e causa desta desigualdade, desta luta de classes. A escola reproduz a desigualdade social e a luta de classes.
Mesmo concordando que o ranking do Enem não conta tudo e que uma escola de qualidade é muito mais do que uma boa nota no exame, tem-se de reconhecer que escolas com notas baixas prejudicam definitivamente os alunos.
Mas mais grave do que tirar notas baixas no Enem é não se inscrever no Enem, como ocorre com a grande maioria dos alunos egressados de escolas públicas. Eles não se sentem preparados para enfrentar o Enem e, consequentemente, preparados para encaminhar-se para a universidade. Seus mestres tão pouco acreditam neles já que raras são as escolas que motivam o aluno a matricular no exame. Se todos os egressos das escolas públicas convencionais fizessem o Enem qual não seria a média final dessas escolas? Pode-se somente especular o pior.
O que fazer então? A solução seria, evidentemente, uma revolução na estrutura econômica e social do país, revolução muito pouco provável de ocorrer, é bem verdade. Outra solução seria a volta dos filhos de famílias abastadas à escola pública convencional, também evento muito pouco provável de ocorrer. O mais provável mesmo é deixar tudo como está para ver como fica.
André Haguette - Sociólogo
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