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1 de maio de 2009

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tentação de ensinar Escrito por Gabriel Perissé 27-Abr-2009 As tentações existem. São diferentes das que nos acossaram outrora, mas continuam aprontando confusão. Cada profissão tem suas peculiares tentações. A tentação do escritor é escrever o dia inteiro e a noite toda até que lhe doam a mente e as mãos. A tentação do psicólogo é mergulhar na alma alheia, mar sem fim, e ali perder a respiração. A tentação do pescador é pescar o tubarão. A tentação do cozinheiro é não sair do forno e fogão. A tentação de cada um é ser o que é para além de todo e qualquer limite, e então perder sentido e noção. A tentação do professor é ensinar tudo e um pouco mais, dar todas as lições do livro e da apostila, sempre com as melhores intenções. O professor é tentado pelo demônio diplomado, pelas excelentes idéias pedagógicas que povoam sua inteligência, sua memória e imaginação. O professor é tentado a cuidar da avaliação, como se avaliar pudesse todas as dimensões do ser humano, esse mistério em mutação, microcosmo em rotação, poço sem fundo em constante ebulição. O professor é tentado a resolver os mais diversos problemas que invadem sua sala — da Aids às drogas, do tédio ao suicídio, do pavor à depressão... mas não só grandes questões, também problemas menores como infestação de piolhos, gripes, briguinhas, bagunça, conversa paralela e xixi no chão. O professor vive caindo em tentação porque acredita possuir, sempre, para tudo, a melhor solução. O professor é tentado a aceitar humilhações em nome do dever, do amor e da paz, e do perdão... tudo por abnegação. O professor é tentado a gemer um "não" quando deveria gritar "sim", ou a conceder seu "sim" quando seria hora de dizer, apenas, "não". O professor é tentado no deserto a definir o errado e o certo, a ser representante da ética, e a repartir com todos o seu pão, e a repetir, parafraseando Pessoa, que tudo vale a pena quando não é pequeno o coração. O professor é tentado a acreditar em ilusões e esquecer a realidade, ou a só pensar no real e colecionar desilusões. O professor é tentado a prometer a salvação, liderar revoluções, promover a pedagogia da libertação. Ó professor, não se deixe cair em tentação! E que nós nos livremos do pressuposto equivocado de que aprender é, tão somente, ouvir instruções. Gabriel Perissé é doutor em Educação pela USP – Web Site: http://www.perisse.com.br/>

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