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12 de novembro de 2011

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12/11/2011
Foco errado
Cristovam Buarque Cristovam Buarque



O Produto Interno Brasileiro de 2009 sofreu uma queda em relação ao ano anterior. É claro que a parte grande dessa tragédia que se chama recessão é culpa de uma crise que não estava nas mãos do Brasil, uma crise internacional que chegou aqui. Chegou aqui não como uma pequena maré, uma marolinha – como se dizia –, chegou de fato como uma grande onda, mas não como um tsunami.

Mas a perspectiva e percepção da população brasileira, mesmo que o PIB tivesse crescido, deveria ser comemorada com ressalvas. Porque o crescimento não distribui. Nós ainda não estamos distribuindo os resultados do desenvolvimento dos 50 anos de forte crescimento que o Brasil teve. Nosso crescimento é para poucos. Um país pode crescer sem melhorar, e o Brasil cresceu sem melhoras: a violência aumentou, a desigualdade também, a destruição ecológica chegou a níveis absurdos.

E mais: o crescimento que vemos se concentra na ideia da produção industrial, e não na produção dos serviços de que a população precisa. O PIB cresceu muito, mas a saúde cresceu pouco, assim como aconteceu com a educação.

Temos de buscar novos caminhos para o crescimento, um novo tipo de crescimento, um novo modelo de desenvolvimento da economia brasileira. Nosso crescimento não é sintonizado com o futuro, é um crescimento baseado na produção de automóveis, e não na melhoria do transporte. Há uma sutileza entre aumentar a produção de automóveis e melhorar o transporte. O crescimento com base na produção de mais carros não basta para trazer satisfação e alegria. A satisfação e a alegria podem vir do aumento na qualidade e na eficiência do transporte disponível.

O que se quer é ir com rapidez de casa para o trabalho, de casa para a diversão, de casa para visitar amigos, parentes e familiares. O que a gente quer é transporte – o carro é apenas o meio.
No Brasil de hoje, o aumento na produção de carros significa piora do transporte, porque os engarrafamentos aumentam. O aumento do PIB faz crescer o direito de ter, mas para poucos, não para todos.

O exemplo do carro serve para outros aspectos. A produção brasileira não está sintonizada com as exigências do futuro e depreda o meio ambiente. E ao depredar o meio ambiente, piora a nossa vida e inviabiliza a vida dos nossos netos. Se é que não vai inviabilizar a dos nossos filhos.
Infelizmente, esquecemos que o PIB mede a produção material. Não existe um PIB da produção da inteligência brasileira. A gente tem um Produto Interno Bruto das coisas materiais que são vendidas no mercado, mas que não há nada que meça a produção da inteligência brasileira.

Outra forma de dizer que estamos crescendo sem nenhuma sintonia com o futuro é o fato de nós crescermos com base em produtos velhos, com base na indústria mecânica, e não na indústria do conhecimento. Com base na velha e antiga produção agropecuária, que aumenta a renda, mas não aumenta o bem-estar do País, nem aumenta a soberania. Mas o verdadeiro salto para o futuro virá da produção dos bens com alto conteúdo de inteligência.

Atualmente, parte da renda vem da inovação tecnológica que vai para o exterior, porque não temos pesquisa no Brasil. E só teremos ciência e tecnologia, quando tivermos uma boa universidade. E isso só ocorre em países com bom ensino médio. E para ter um bom ensino médio, é preciso uma boa educação de base, que só ocorre em países que cuidam bem das suas crianças.

Logo, ao mesmo tempo em que constatamos uma queda no crescimento, fica o alerta de que não basta crescer, é preciso mudar o tipo de crescimento.
 
Texto publicado na edição de julho de 2010 da revista Profissão Mestre.

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