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20 de agosto de 2011

UMA LEITURA QUE MERECE REFLEXÃO

Opinião

Sexta, 19 de Agosto de 2011

O saldo da leitura




 

Outro dia escrevi um artigo falando mal dos nossos mimados estudantes universitários e recebi de amigos, namoradas e vizinhos uma saraivada de críticas. Até no botequim preferido, onde sempre sou recebido com certa deferência, houve quem não me quisesse servir. “Como ousas insultar os nossos jovens estudantes, o futuro do País!”. “Estais a cuspir no prato que comeu, a juventude é a esperança!”. Resignado, eu apenas abaixava a cabeça e batia o indicador na aba do chapéu, como a pedir desculpas por ter existido. Pois bem. Algum tempo depois, eis que abro o jornal e deparo-me com a manchete: universitários brasileiros leem apenas de um a quatro livros por ano.
Segundo uma pesquisa realizada pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior, cinco é um número proibido para as estafadas e emaconhadas cabecinhas dos portadores do futuro do Brasil. Atenção, caros leitores! Os senhores leram bem! A pesquisa foi realizada apenas entre os badalados estudantes das universidades federais! Agora imaginem comigo. Se a pesquisa tivesse se estendido aos estudantes das universidades privadas – claro, claro, há as sérias, mas todos sabemos que a maioria é apenas caça-níquel –, onde os vestibulares são verdadeiras piadas e o nível discente beira o Jardim II, talvez o resultado tivesse sido bem diferente, ou seja, em vez de um a quatro livros por ano, a média poderia cair para menos três a cinco livros/ano. Isso mesmo! Teríamos um saldo negativo! Imaginem as manchetes. “Universitários brasileiros têm saldo de leitura negativo de três a cinco livros por ano”. O Matheus, meu vizinho de oito anos de idade, disse-me, numa rápida conversa no elevador, que pretendia ler, nas próximas férias, três livros, entre eles, um volume do Sítio do Pica-Pau Amarelo, de Lobato. “Sem contar as revistinhas”, salientou orgulhoso. É claro que, como não tem que bater ponto no movimento estudantil, nem muito menos buscar o transcendental num cigarro de maconha, sobra ao Matheus bastante tempo para a leitura, diferentemente dos universitários brasileiros, sempre tão ocupados em transformar o mundo, destruir o capitalismo e, ocasionalmente, fumar maconha.
Na UFC, conheci um estudante de História que sempre carregava o mesmo livro. Um dia lhe perguntei qual era a obra. Ele mostrou-me. “As veias abertas da América Latina”. Perguntei-lhe se tinha outro livro em mente, para quando terminar aquele. “Tô me programando para ler, no próximo ano, ‘A história que a mídia não conta sobre o MST’”. E no intervalo entre um e outro, indaguei perplexo. “Ah, bróder, aí é o tempo que eu tiro pra relaxar a mente”. Relaxar a mente, os senhores sabem...

FONTE: JORNAL O ESTADO

Um comentário:

Tais disse...

Desculpe, mas você disse que esse texto foi publicado n'O Estado de São Paulo, na parte de Opinião, mas esse texto nunca foi publicado. Aliás, a única entrada referente a ele na internet é deste blog. Você também não citou o nome do suposto autor do texto.