ARTIGO
Sto Antônio do Buraco
Publicado em 14 de agosto de 2011
Nas danações da minha meninice, esse nome sempre me metia muito medo. Mamãe, de vez em quando, prometia me "exilar" para tal lugar, castrando muitas traquinagens que desejei realizar.
Lembro de uma vez, quando, jogando bola de meia no corredor de nossa casa, estilhacei o vidro frontal da cristaleira, destruindo algumas peças de pequeno valor ali guardadas. O barulho e o susto foram imensos e corri para o quintal, já com a certeza que imediatamente seria despachado para o tal Santo Antônio. Felizmente, fui perdoado, só levando umas dez chineladas, das quais nem procurei me esquivar pela justiça do castigo.
Recordo, com remorso, que muitos anos depois desse incidente, despedindo-me da família para seguir para o Sul, a cristaleira continuava sem o vidro, com suas prateleiras empoeiradas, a marca do meu poder destruidor.
Já homem feito, numa das minhas raras visitas a Fortaleza, chamei o vidraceiro para recuperar a bela cristaleira. O mesmo não pude fazer com o relógio de parede, modelo em oito, que regulou nossa vida desde que me entendi como gente.
Quebrei-o, tentando corrigir seu funcionamento.
Um conserto simples que tornei complicado, como quase tudo que tentei acertar nesta vida de tantos desacertos e dissabores. Nunca soube do destino daquele lindo relógio, com certeza o lixo. Hoje, sempre que vejo um relógio daquele tipo, meu coração fibrila, mas nunca tive coragem de adquirir um novo, por entender que o passado não pode ser resgatado e que somente o coração tem o poder de guardar as doloridas passagens da vida.
Ás vezes, pego a confabular comigo mesmo: será que se eu tivesse ido para o Santo Antônio do Buraco teria tido um destino diferente? Só Deus na sua infinita sabedoria poderia me responder. Mas que importa? A vida é assim mesmo: vamos vivendo, levando boas e más lembranças, coisas inesquecíveis, que, sem nos avisar, mexem com a nossa existência em algum instante e nos fazem sorrir e, às vezes, até chorar...
Rui Pinheiro Silva - Coronel Reformado do Exército
Lembro de uma vez, quando, jogando bola de meia no corredor de nossa casa, estilhacei o vidro frontal da cristaleira, destruindo algumas peças de pequeno valor ali guardadas. O barulho e o susto foram imensos e corri para o quintal, já com a certeza que imediatamente seria despachado para o tal Santo Antônio. Felizmente, fui perdoado, só levando umas dez chineladas, das quais nem procurei me esquivar pela justiça do castigo.
Recordo, com remorso, que muitos anos depois desse incidente, despedindo-me da família para seguir para o Sul, a cristaleira continuava sem o vidro, com suas prateleiras empoeiradas, a marca do meu poder destruidor.
Já homem feito, numa das minhas raras visitas a Fortaleza, chamei o vidraceiro para recuperar a bela cristaleira. O mesmo não pude fazer com o relógio de parede, modelo em oito, que regulou nossa vida desde que me entendi como gente.
Quebrei-o, tentando corrigir seu funcionamento.
Um conserto simples que tornei complicado, como quase tudo que tentei acertar nesta vida de tantos desacertos e dissabores. Nunca soube do destino daquele lindo relógio, com certeza o lixo. Hoje, sempre que vejo um relógio daquele tipo, meu coração fibrila, mas nunca tive coragem de adquirir um novo, por entender que o passado não pode ser resgatado e que somente o coração tem o poder de guardar as doloridas passagens da vida.
Ás vezes, pego a confabular comigo mesmo: será que se eu tivesse ido para o Santo Antônio do Buraco teria tido um destino diferente? Só Deus na sua infinita sabedoria poderia me responder. Mas que importa? A vida é assim mesmo: vamos vivendo, levando boas e más lembranças, coisas inesquecíveis, que, sem nos avisar, mexem com a nossa existência em algum instante e nos fazem sorrir e, às vezes, até chorar...
Rui Pinheiro Silva - Coronel Reformado do Exército
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