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25 de julho de 2011

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O livro da professora

25.07.2011| 01:30

No segundo ano de magistério, Nildes começou a se dedicar à supervisão e à formação das professoras novatas. Daí nasceu a ideia de montar uma escola onde pudesse fazerm coisas novas - ao lado de uma irmã e de um cunhado, inaugurou o Instituto João XXIII. No início dos anos 60, começou a aplicar o recém-formulado Livro da Professora (espécie de cartilha oficial chancelada pela Secretaria de Educação) em suas aulas.

“Comecei, e a Secretaria de Educação publicou O Livro da Professora. Recebi um compêndio, distribuí com as professoras e comecei a formar. Iniciamos em fevereiro (de 1964), a ditadura foi em março. E foi proibido que se usasse esse material porque era subversivo”, lembra. “Se você ler a mensagem de trás, que os meninos têm que aprender a ser livres, era Paulo Freire, Piaget, raciocínio lógico, de fazer com que participassem. Essa filosofia estava no Livro da Professora. Achei que podia aplicar o livro na minha escola. Mal sabia que estava correndo um risco imenso. A escola pública é que estava proibida, a escola particular, não tinham dito nada”.

PERGUNTA DO LEITOR

Graça Oliveira, 62, microempresária

O POVO – Como a senhora descobriu o seu dom?
Nildes – Quando estava no segundo ano de magistério e fui convidada a ser supervisora. Meu dom foi no sentido d´eu me dedicar às professoras novatas. Fui me desenvolvendo – passei oito anos no Christus, houve um crescimento imenso –, tive vontade de fazer uma escola onde pudesse fazer coisas novas. (Com uma irmã e o cunhado, inaugurou o Instituto João XXIII). Abri minha visão de educadora. O aluno não é só cabeça, o cognitivo. É um ser que precisa descobrir de si próprio, de se amar, de amar os outros. Tive duas escolas grandes na vida: o Christus e a Ação Católica.

PERFIL

Nildes Alencar Lima nasceu dois anos depois da histórica seca de 1932, em Lavras da Mangabeira (417,4 quilômetros de Fortaleza). A família, que tinha herança de terra e cartório, morava no Sítio Cajueiro, a um rio da cidade. Os Lima migraram para a Capital em 1939, e Nildes cresceu descobrindo a luz elétrica, o mar, os livros, o amor pela educação e por um professor: Francisco Bianou de Andrade. Com o magistério, são mais de 40 anos de casamento. Com Francisco, 32 anos de cumplicidade. Esses dois amores se unem no dia a dia da secretária de Educação de Jucás. “Só estou conseguindo fazer isso (organizar as 16 escolas do município) porque tenho o amor dele completo. Tanto que, para irmos a uma fazendinha que temos, a gente se encontra no meio do caminho. De Jucás, eu sigo”, declara Nildes.


BASTIDORES


Nildes Alencar é sempre procurada para falar do irmão, frei Tito (1945-1974), torturado pela ditadura militar. Desta vez, a pauta quis saber dela mesma, nos seus detalhes. Naquilo que a torna quem ela é.

Foram dois encontros, em meio ao vai-e-vem de Nildes a Jucás (onde é secretária de Educação) e a compromissos com suas utopias. Duas conversas, no escritório do apartamento, entre livros e memórias, que resultaram em 21 páginas digitadas.

Nildes ainda conserva uma simplicidade sertaneja. Para as fotos, arrumou-se com colar de pérolas e batom. E, pouco à vontade para as poses que a fotógrafa demandava, escolheu ficar séria em boa parte dos retratos.

Além das 16 escolas de Jucás, Nildes se dedica ao Projeto Sol (Solidariedade, Operosidade e Liberdade), no bairro Caça e Pesca. O projeto abraça 120 crianças (3 a 9 anos), em uma escolinha mantida pela comunidade.

O Projeto Sol é uma da utopias de Nildes, colocada em prática há cinco anos. “Considero educação um movimento. Porque muda o pensamento, mexe com valores e atitudes”, sublinha. Ela é diretora-pedagógica do projeto e faz questão de dizer que quem toca o barco são um grupo de mães do Caça e Pesca.
 FONTE: JORNAL O POVO

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