Ideias
Não quero ser prefeito
Publicado em 28 de junho de 2011
Houve um tempo em que fui bastante popular em minha cidade, pelo menos era o que mamãe me garantia. Nessa época, eu era professor - como todos sabem, a vida de professor nunca foi fácil - e participava do movimento sindical reivindicando melhorias para a educação e salários dignos para a categoria. Eu era um dos mais radicais na luta em defesa do movimento sindical. Em razão do meu envolvimento com essa luta, ganhei reconhecimento junto aos colegas, às autoridades e à população da cidade. Passei a ser chamado para dar entrevistas quando o assunto era educação. Eu era cortejado e, às vezes, bajulado pelos políticos. Até mesmo os moradores da periferia passaram a me pedir ajuda em favor de suas reivindicações. Não tardou e tive meu nome lembrado por populares para ser candidato a prefeito da cidade. Nunca fui candidato a cargo político. Essas lembranças me ocorrem agora por conta da crise pela qual passa a educação e da greve de professores municipais em prol do piso nacional da categoria, conforme a Lei n°11.738/2008. Fico a pensar: "Será que, se eu fosse prefeito, depois de ter lutado junto aos professores, iria negar esse aumento alegando que o cofre municipal não pode arcar com a despesa? Com que cara eu iria olhar para os professores, meus colegas?" E por que os prefeitos ditos de esquerda, nesse momento que pode significar uma mudança revolucionária na educação, dão as costas aos professores? Será que eles pensam que são donos da chave do cofre municipal? Ou estão maquiavelicamente fazendo caixa para eleger membros de seu grupo político nas próximas eleições? Diz o provérbio que o candidato eleito, quando senta na cadeira do prefeito, engrossa o pescoço e esquece que está ali para servir. Ou a terra prometida é a inversão pessoal do poder e do dinheiro? Pensando bem, não seria mais sensato o prefeito - tenha ou não lutado com os professores, seja ou não de esquerda - simplesmente implantar o novo piso nacional dos mestres? Por esse motivo, mais uma vez a questão da democracia direta vem à baila: uma mera consulta à população diria se o prefeito que não implantasse o piso deveria ou não permanecer no cargo.
Saraiva Júnior - auditor fiscal do Trabalho
Fonte: www.diariodonordeste.com.br
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