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22 de novembro de 2010

é bom refletir

A Copa do Mundo e o descaso social


A escolha do Brasil para sediar a Copa do Mundo trouxe alegria e felicidade ao povo brasileiro. O Presidente Lula, eufórico, vaticinou: “Em 2014, vamos fazer uma Copa pra argentino nenhum botar defeito”. Fala-se de progresso e de engrandecimento do nosso país com o auspicioso acontecimento, que exigirá grandes transformações, infraestrutura adequada em aeroportos, construção de rodovias, aperfeiçoamento dos meios de transporte, reconstrução de estádios, hotéis, entre outras modernidades, presumindo-se a geração de novos empregos. Mas, tão complexo empreendimento exige verba extraordinária. Os governantes, que pouco se preocupam com o bem-estar da população, parecem agora despertos da letargia em que se posicionaram em tantos anos de poder, para, numa afobação incontida, buscar nos cofres recursos exorbitantes, com a intenção de transformar em país das maravilhas, o nosso Brasil. Dá o que pensar como será a aplicação desse numerário, sabendo-se ser comum o desvio de verbas públicas para fins escusos, como ocorreu com o CPMF, afastado de sua finalidade precípua, embora fosse notória, a falência do nosso bem maior – a saúde.


A imprensa denuncia o abandono de doentes em macas nos corredores de hospitais superlotados, sem vagas nas UTIs; o SUS, que, com recurso insuficiente, protela consulta e exames de urgência, em um ano ou até mais; a escassez de hospitais, de postos de saúde, de profissionais, equipamentos e medicamentos. O governo tudo sabe, mas não se pronuncia. Esses dados impressionantes não sensibilizam as autoridades, que não encontram justificativa, na procura de alternativas que amenizem o sofrer. Apesar de, por vezes camuflado, esse alarmante descaso social, salta aos olhos, e, fatalmente ficará registrado na lembrança de nossos visitantes. Com os inúmeros de torcedores que virão à Copa, o que fazer para mudar a imagem do Brasil lá fora, em tempo exíguo, se nunca conseguimos conter o narcotráfico; a violência exacerbada; a corrupção explícita e impune; a miséria dos excluídos, sem água, sem teto, sem escola, sem comida?


A previsão de jogos da Copa em Fortaleza deveria ser motivo de regozijo, mas, ao contrário, nos torna apreensivos, e descrentes nos apregoados benefícios que esse fato traria para o Estado. Em um momento de lucidez alguém falou: “Esses grandes eventos, quando em países pobres, são como festa de casamento: muito investimento, porém com lucro duvidoso.” Os coordenadores, se detém nas reformas, em como realçar as belezas naturais e com projetos monumentais como o comentado Projeto Acquário, um empreendimento belo e luxuoso, uma atração turística importante, porém, nesse momento, inoportuna. Se nos detivermos nas prioridades do Estado e nas necessidades prementes do povo, veremos que esse grandioso monumento, é de somenos importância, tendo em vista o já comentado descalabro social. A verba, já assegurada para ele, teria melhor aplicação em creches, transportes, habitação, saneamento, segurança, educação, de forma efetiva, independente da realização da Copa do Mundo...


É óbvio que uma casa sem estrutura adequada, suja e pobre, não comporta decoração com lustres de cristal ou pisos de mármore. Da mesma maneira, a suntuosidade do Acquário não se harmoniza com ruas esburacadas, fios e cabos elétricos aparentes, entrelaçados e sem manutenção; com esgotos a céu aberto; com mendigos de olhares famintos; e assaltantes mirins, cheirando cola pelos arredores, sem nenhuma chance de apreciar os belíssimos peixes ali aprisionados. Aliás, sabe-se que engaiolar pássaros é crime; e, privar espécimes de seu habitat na imensidão azul para colocá-los nas iluminadas e magníficas caixas de vidro, pode? Se é lícito, todos estamos ansiosos por admirá-los. Que venha o Acquário, mas que a casa esteja arrumada e perfumada, e seus habitantes felizes, para receber tão rico ornamento!...

Vera de Abreu Pereira Araújo

veraaparaujo@hotmail.com Funcionária pública federal aposentada 

Um comentário:

Unknown disse...

Muito atual. Como há dez anos, tudo permanece sem alterações.