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22 de fevereiro de 2010

UMA LEITURA PARA REFLEXÃO E AÇÃO

Escola: linha de produção? 

Publicado em
2010-02-18
Há alguns meses, levei meu filho para conhecer a empresa em que trabalho há anos. Como a empresa não permite visita de familiares na linha de produção, nem no setor onde trabalho (Laboratório de Controle da Qualidade), não pude passar do portão da empresa com ele, então mostrei-lhe de longe onde eu trabalho, e onde os colegas da produção produzem o produto que analiso.
Ele ficou contente de poder ter feito comigo, pelo menos um dia, o trajeto que faço diariamente há bastante tempo, mas visivelmente decepcionado, quando notou que não poderia passar do portão.
Expliquei-lhe que por ser uma indústria química, pode ser perigoso entrar sem treinamento, sem equipamento de proteção, mas que quem sabe um dia a empresa desenvolverá um programa de visitas, então ele poderá entrar pelo menos no setor em que trabalho; ele se animou.
No final do ano que passou, ele terminou o “prézinho” e iniciou esse ano no 1° ano do Ensino Fundamental.
Fui com muito prazer levá-lo para a primeira aula, fiquei ao lado dele até que ele entrou na sala, confesso que foi uma grande emoção; deu até vontade de tentar conciliar meu trabalho na empresa, aulas para futuros professores (meus alunos do Curso de Pedagogia) e aulas para alunos do Ensino Fundamental.
Alguns dias depois, porém, uma funcionária da escola “barrou” não só a minha entrada, como a entrada de todos os outros pais. Segundo ela, a partir daquele dia, não poderíamos mais passar do portão, somente os alunos entrariam na escola naquele horário, sem dar maiores explicações.
Ao ler o texto “Quero uma escola retrógrada...” de Rúbem Alves pensei:
Estaria esta escola (não posso dizer de outras no momento...) sendo considerada uma empresa privada onde só podem entrar os técnicos (os professores e demais funcionários) e a matéria-prima (os alunos) que os clientes (os pais) vão buscar no fim do dia, cada dia mais, pouco a pouco lapidados, transformados em “produto da educação”? Ou, de acordo com o autor citado, transformados em uma “mercadoria espiritual que pode entrar no mercado de trabalho”?
Será que não vou ser acusado depois pela escola de desinteresse com relação ao desenvolvimento do processo escolar de meu filho? Mas, como participar ativamente, se tudo o que eu posso fazer é ficar espiando-o por entre as frestras do muro, dividindo-as com os demais pais angustiados, até que eles entram pra sala, então temos que deixá-los nas mãos de “estranhos” por horas, até que vamos buscá-los e de novo esperamos (os observando pelas frestas do muro) até saírem pelo portão?
É uma pena que isso seja verdade! Gostaria muito que Rubem Alves tivesse escrito uma bela crônica, sem sentido real, mas infelizmente sentí-a na pele, junto com outros pais e mães de colegas do meu filho...
É uma pena defender o tema “A importância da participação das famílias no processo de aprendizagem escolar” no meu trabalho de especialização em Psicopedagogia, e ter que levar meu filho para estudar em uma instituição pública, que não permite que eu, nem os pais dos colegas dele, passem do portão...
Uma pena!
Ou sorte? Por que não sorte?
Talvez esteja aí a minha primeira oportunidade de experimentar na prática, o que estou aprendendo na especialização: intervir psicopedagogicamente...
Vou me preparar para isso...
Vanderlei Roberto Gabricio é Licenciado em Pedagogia, Especializando em Psicopedagogia e Metodologia do Ensino Superior, Professor tutor do Curso de Pedagogia da Universidade de Santo Amaro (Unisa) – Pólo de Mogi Guaçu – SP.

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