Artigo
Crack: a nova epidemia
Fernando Cartaxo
25 Nov 2009 - 00h23min
25 Nov 2009 - 00h23min
Alguns temas no Brasil ficam asfixiados por tabus moralistas e o hábito de esconder problemas debaixo do tapete. A Aids foi durante muito tempo assunto segregado com tintas preconceituosas: doença de homossexuais e usuários de drogas. Só a ruptura da percepção estreita que a enjaulava nos guetos sociais marginalizados fez mover a sociedade e o poder público. Daí passou a ser um problema de saúde pública.
Infelizmente a nossa sociedade cultiva o falso puritanismo: a diversidade sexual como desvio de conduta; o transtorno mental como fraqueza de espírito e o vício como manifestação demoníaca.
As drogas sempre foram identificadas com o submundo do crime. Apesar de acompanhar toda a história da humanidade, fazendo parte dos rituais de passagens, muitos não perceberam a própria evolução e mutação dos tipos de drogas existentes. Há poucas décadas, a maconha simbolizava a droga acessível e da moda, sendo a cocaína uma substância inalcançável das telas do cinema americano, ou a droga das elites.
A globalização encurtou distâncias e disseminou acesso aos mais diversificados tipos de entorpecentes. A estratégia mundialmente adotada foi tratar a questão das drogas com mera repressão policial e delito criminal. Apesar dos bilhões de dólares investidos para se combatê-la, a realidade demonstra o fracasso das medidas repressivas. O consumo e a dependência química se alastram por todo o planeta. E o envolvimento da policia só fez fortalecer o crime organizado deste mercado bilionário.
Os especialistas apontam à necessidade de mudança radical na percepção do problema, reconhecendo sua gravidade e o inescapável desafio de construir novas formas de enfrentar o consumo, seus efeitos danosos e alternativas para desestruturar o crime organizado.
O consumidor e o pequeno traficante não podem ser troféus do combate fictício ao tráfico de entorpecentes. É desumano criminalizar a vítima. A sociedade brasileira tem que se despir dos seus pudores e hipocrisias, indispensável para nova mentalidade frente à dependência química e ao combate real do mercado de drogas.
Hoje, convivemos com a epidemia do Crack. É uma droga devastadora que gera morte e violência. A dependência é instantânea e sua substância - parte podre do refino da cocaína, uma borra barata e letal. A sua expansão não tem encontrado obstáculo, invadindo todas as classes sociais e se interiorizando por todo o País. As consequências já se acumulam em velocidade incontrolável. Agora que a sociedade e o poder público despertam para a sua amplitude. Talvez porque filhos das classes médias e elites tenham embarcado no naufrágio existencial.
A situação exige pensar políticas de redução de danos: descriminalizar o consumo e regulamentar o uso de drogas menos danosas como a maconha e estruturar rede eficaz para o tratamento da dependência. Pois prender o pequeno traficante é fortalecer a escola do crime organizado e não tratar o dependente é condená-lo à morte e aos assassinatos e roubos banais.
Fernando Cartaxo - Sociólogo e graduado em comunicação
fernandocartaxo@uol.com.br
Infelizmente a nossa sociedade cultiva o falso puritanismo: a diversidade sexual como desvio de conduta; o transtorno mental como fraqueza de espírito e o vício como manifestação demoníaca.
As drogas sempre foram identificadas com o submundo do crime. Apesar de acompanhar toda a história da humanidade, fazendo parte dos rituais de passagens, muitos não perceberam a própria evolução e mutação dos tipos de drogas existentes. Há poucas décadas, a maconha simbolizava a droga acessível e da moda, sendo a cocaína uma substância inalcançável das telas do cinema americano, ou a droga das elites.
A globalização encurtou distâncias e disseminou acesso aos mais diversificados tipos de entorpecentes. A estratégia mundialmente adotada foi tratar a questão das drogas com mera repressão policial e delito criminal. Apesar dos bilhões de dólares investidos para se combatê-la, a realidade demonstra o fracasso das medidas repressivas. O consumo e a dependência química se alastram por todo o planeta. E o envolvimento da policia só fez fortalecer o crime organizado deste mercado bilionário.
Os especialistas apontam à necessidade de mudança radical na percepção do problema, reconhecendo sua gravidade e o inescapável desafio de construir novas formas de enfrentar o consumo, seus efeitos danosos e alternativas para desestruturar o crime organizado.
O consumidor e o pequeno traficante não podem ser troféus do combate fictício ao tráfico de entorpecentes. É desumano criminalizar a vítima. A sociedade brasileira tem que se despir dos seus pudores e hipocrisias, indispensável para nova mentalidade frente à dependência química e ao combate real do mercado de drogas.
Hoje, convivemos com a epidemia do Crack. É uma droga devastadora que gera morte e violência. A dependência é instantânea e sua substância - parte podre do refino da cocaína, uma borra barata e letal. A sua expansão não tem encontrado obstáculo, invadindo todas as classes sociais e se interiorizando por todo o País. As consequências já se acumulam em velocidade incontrolável. Agora que a sociedade e o poder público despertam para a sua amplitude. Talvez porque filhos das classes médias e elites tenham embarcado no naufrágio existencial.
A situação exige pensar políticas de redução de danos: descriminalizar o consumo e regulamentar o uso de drogas menos danosas como a maconha e estruturar rede eficaz para o tratamento da dependência. Pois prender o pequeno traficante é fortalecer a escola do crime organizado e não tratar o dependente é condená-lo à morte e aos assassinatos e roubos banais.
Fernando Cartaxo - Sociólogo e graduado em comunicação
fernandocartaxo@uol.com.br
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