Em muitas coisas Chile e Brasil se aproximam. Não apenas as contingências de se apresentarem na mesma parte do mundo, viveram também uma história antiga e recente não muito diferente. Mas, há naquele país uma sensível diferença que acorda inveja a todos os brasileiros: No Chile se desenvolve uma educação pública de qualidade, muito acima da média da educação pública praticada no Brasil. A diferença é menos marcante pela forma como se apresenta lá e aqui o ensino e mais, muito mais, pelos efeitos e consciências dessa educação.
O Chile apresenta índices de escolaridade muito acima que o nosso e o mundo inteiro aplaude seu progresso notável como produto de uma educação pública de qualidade. Mas, o que faz o professor chileno em sua sala de aula, que o brasileiro não faz? Será que poderíamos absorver desse país, novas maneiras de se ensinar? O caráter afirmativo da segunda questão explica a primeira e assim qualquer professor brasileiro, em escola pública ou particular, poderia ministrar aulas segundo o excelente modelo chileno, desde que ousasse empreender algumas mudanças. Simples, mas de resultados claramente assegurados. Vamos, pois, a elas.
A MANEIRA DE SE ACREDITAR NA CIÊNCIA
A Lei da Gravidade, por exemplo, não é “mais ou menos” aceitável, a evolução da espécie humana não representa hipótese de aceitação restrita. Em Ciência não existe intuição e achismo e sim a verdade que confirma ou que desmente a hipótese e, portanto, se é essencial ensinar um fato cientifico é importante que alunos professores percebam que estão diante de evidências e que o bom senso implica em aceitá-las.
No Chile o ensino das Ciências transita pelo belo caminho das leis, das pesquisas, das especulações e da realidade que se faz verdade e não pelo senso oportunista de se aceitar proposições que não científicas “respeitam o direito de pensar de cada um”.
A MANEIRA DE SE PENSAR A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DAS SÉRIES INICIAIS
Para os pacientes que apresentam maior gravidade em sua patologia é essencial que os assistam os médicos mais competentes. Essa realidade singela, mas realista, que é um dos princípios básicos da medicina vale para a educação chilena, mas é um mito para a educação brasileira. Infelizmente costumamos pensar que quanto mais elementar o nível de informações de um aluno, mas alto pode ser o despreparo de seu professor. Isso é um absurdo, pois é nos primeiros anos de vida que o cérebro mais humano de desenvolve e, portanto, mais requer quem melhor o compreenda e quem de forma mais profissional o estimule. Para os níveis mais elevados de uma pós-graduação, o aluno pode dispensar a ajuda eficiente de um grande mestre, para as séries iniciais jamais.
A MANEIRA DE SE TRABALHAR MÉTODOS DE ENSINO
Nada menos que oito em cada dez professores brasileiros se tivessem que definir o método de ensino que desenvolvem deveriam chamá-lo de “decoreba” ou, de forma mais atualizada, "mnemônico". Esse fundamento, tão antigo quanto as aulas ministradas por Anchieta, impõem aos alunos a repetição do que fala o professor, sem qualquer necessidade de imprimir vocabulário próprio e específico a essa repetição. Quem sabe significativamente, sabe dizer o que sabe de muitas maneiras, mas não é esse o saber de nossos alunos da escola pública que, quando pensam que sabem, sabem repetir sentenças sem vinculá-las a sua realidade, sem fazer dessa aprendizagem um caminho para descobertas de outros saberes. Uma aprendizagem nesse estilo não serve para quase nada, não explora a capacidade de análise e síntese, não impõe análise crítica a generalizações, não aprimora competências. O estudante absorve informações não porque aprenderam analisá-las a luz da razão.
A MANEIRA DE SE PENSAR EM ESTÍMULOS A CRIATIVIDADE
Criatividade é palavra exaltada em todas as escolas do país. Não há quem a condene e nem mesmo quem ponha em dúvida sua importância, mas são poucos os professores que sabem realmente explorar e potencializar a criatividade de seus alunos. Na maior parte das vezes confunde-se criatividade com improvisação e se exalta o aluno que faz coisas de maneira diferente, ainda que faça besteiras e que essa sua maneira original de fazer não tenha qualquer validade. A verdadeira criatividade, todos sabemos, está sempre na base da investigação científica e não se conhece gênio humano que não tenha sido criativo em uma ou várias linguagens, mas uma escola que a explore precisa de professores que conheçam os fundamentos neurocientíficos de sua eclosão e desenvolvimento e, assim, possam a estimular a mente como em boas aulas de Educação Física se fortalecem os músculos. Laboratórios de Criatividade são mais baratos e bem mais eficientes que Salas de Computação que permanecem fechadas por falta de técnicos.
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