EDITORIAL
Atraso na aprendizagem
Qualquer parâmetro utilizado para avaliar a qualidade do ensino público no Ceará comprova o seu baixo nível, fruto de uma série de problemas estruturais, entre eles, a caducidade dos métodos de aprendizagem, a desatualização curricular e a desmotivação do professorado em razão dos baixos níveis de remuneração. No âmbito das escolas de Ensino Médio, há outra realidade, ainda mais preocupante, provocada pela falta de entusiasmo de parte do alunado, atraído, em grande escala, pelas drogas e pela violência das gangues de bairros.
Comprovando a assertiva, dados do Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do Ceará (Spaece), relativos ao desempenho escolar de 2008, constatam: 80% dos estudantes do Ensino Médio, submetidos à avaliação, tiveram rendimento crítico ou muito crítico. Em Matemática, os números são alarmantes, pois 85% deles não têm o domínio sobre as quatro operações e apenas 2,5% atingiram o nível desejado. O Spaece alimenta as políticas de transformação dessa catástrofe.
Quanto à Língua Portuguesa, a situação não é diferente, pois, 80% dos alunos do Ensino Médio das escolas públicas do Estado só lêem frases curtas, na ordem direta, e não sabem desenvolver textos simples. Também nessa disciplina, apenas 2,8% dos avaliados atingiram o nível desejado. Se houvesse aprofundamento para outros ramos do conhecimento, a situação não seria diferente, diante do ambiente sem atrativos do ensino.
A Secretaria de Educação Básica aponta o baixo índice de eficiência dos estudantes como relacionado com a falta de base escolar, pois os alunos chegam ao Ensino Médio com a aprendizagem defasada. Essa conseqüência está relacionada com a necessidade de o jovem ingressar no mercado de trabalho precocemente e o crescente envolvimento com as drogas e a marginalidade. Todos esses aspectos impactam na escola.
Estes resultados estão provocando reações. O governo do Estado partiu para quebrar o imobilismo desse sistema caótico com um plano de metas, propondo à Assembléia Legislativa a aprovação de dois projetos de lei instituindo premiações para professores e alunos que revertam essa situação inadequada. O prêmio "Aprender para Valer" contempla as escolas que alcançarem as metas anuais de evolução da aprendizagem, com um mês de remuneração adicional para o seu corpo funcional. Os alunos destacados nas disciplinas Língua Portuguesa e Matemática, no Spaece, ganharão computadores.
Em meio a essas vicissitudes, o Estado programou, ainda, realizar concurso público para recrutar quatro mil professores do Ensino Médio, oferecendo-lhes remuneração de R$ 1.327,66 por 40 horas semanais de trabalho. Duvida-se do sucesso da empreitada por haver, atualmente, lecionando em situação precária, 10 mil professores temporários. O concurso não solucionaria a carência de mestres na esfera pública.
Baixo nível da aprendizagem ocorre também nas áreas das disciplinas Física, Química e Biologia. Com essa remuneração, poucos professores licenciados serão habilitados, pois ela situa-se abaixo do vencimento oferecido a um soldado do Ronda do Quarteirão.
A Prefeitura de Fortaleza também está oferecendo 1.246 vagas para professores de áreas específicas do Ensino Fundamental. A remuneração é maior, R$ 1.693,33 por idêntica carga horária. O equacionamento dos problemas educacionais supera essas saídas. Ainda assim, a crise exige maior criatividade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário