Alunos e professores na escola real
Por Gabriel Perissé em 18/8/2009
Para além (ou aquém) das estatísticas e indicadores que mostram os impasses da educação brasileira, existem pessoas reais na escola real. Neste mês de agosto, as revistas Educação e Época trouxeram reportagens que mostram alunos e professores com rosto, nome e sobrenome, o que nos permite encarar o existencial.
A revista Educação (ed. 148) apresenta Cotidianos em contraste, acompanhando três professores paulistas num dia comum de trabalho. Contrastes não faltam. A realidade de um professor de colégio particular não é a de um docente da rede pública. A realidade da professora-mulher é diferente da do professor-homem. Disso sabemos
, mas os detalhes tornam o óbvio mais convincente.
Cada um dos três professores recebe um "título" definidor. Um é o "andarilho", o professor sem carro, correndo de uma escola para outra. Outra professora e outro título, a "comunicadora", marca registrada, aliás, dos professores que veem na sala de aula o lugar do diálogo. O terceiro é o "driblador", contornando aqui e ali a vida.
Esses "mestres do cotidiano" carregam idealismos, desilusões, alegria e cansaço. Mas o que mais chama a atenção nesta reportagem é a queixa dos editores, que não encontraram por parte da Secretaria de Educação de São Paulo a esperada sintonia:
"Ignorar as demandas de alguns veículos de comunicação, notadamente os menores e que trabalham de forma crítica. Parece ser essa a postura deliberadamente adotada pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. Ao menos é o que a experiência relativa aos colaboradores da revista Educação permite depreender."
Teria sido ingenuidade dos editores esperar tanto?
Sentimento de abandono
Na revista Época (nº 587), são os alunos em evidência. Helio Gurovitz, diretor de Redação, afirma que discutir e apostar na educação é mais importante do que falar da crise do Senado. E, de fato, crise por crise, a da educação é mais profunda e, de certa maneira, permite que se instale no poder quem se prevalece de um povo cuja escolaridade deixa a desejar.
A reportagem, assinada por Ana Aranha, traz a visão de cinco estudantes em diferentes condições sociais. Também em suas palavras há idealismo e desilusão. E apreensão. As dificuldades de comunicação entre alunos e docentes são recorrentes. Se adotássemos a ideia de dar "títulos" para os jovens, alguns deles seriam: "perplexo", "esperançoso"...
Em ambos os casos, professores e alunos se sentem um tanto abandonados.
Publicado no site http://www.observatoriodaimprensa.com.br/
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