Amazônia em Chamas
João Luís de Almeida Machado Editor do Portal Planeta Educação; Doutor em Educação pela PUC-SP; Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP); Professor Universitário e Pesquisador; Autor do livro "Na Sala de Aula com a Sétima Arte – Aprendendo com o Cinema" (Editora Intersubjetiva).
Uma verdadeira história de amor a vida
Um homem devotado a uma causa nobre. De origem humilde, proveniente de uma região esquecida durante muito tempo, mesmo no país onde está cravada. De uma hora para outra, tanto esse ser humano notável quanto o local onde vivia, se tornaram o centro das atenções mundiais. Deixaram de ser a periferia do universo e viraram o que havia de mais importante no planeta. O que havia de tão especial nesse homem? E nessa localidade? Afinal de contas, de quem estamos falando? A que espaço geográfico nos referimos?
O local é fácil de descobrir em virtude do título do filme, "Amazônia em Chamas". Falamos da maior reserva florestal do planeta, que cobre vasto território da América do Sul, principalmente do Brasil. Espaço pródigo em riquezas minerais, em madeira, cortado por rios portentosos, possuidores de enorme variedade de peixes. Tive a oportunidade de conhecer a região na década de 1980, quando a devastação provocada pelas queimadas ou pelo apetite voraz dos madeireiros ainda não havia provocado grande comoção na comunidade internacional.
Nessa época, o personagem central do filme "Amazônia em Chamas" já vivia por lá. Talvez ainda não tivesse idéia da repercussão futura de seus atos e propostas em favor da preservação da floresta. Penso até que, no ano de 1980, Chico Mendes ainda não estivesse a par dos perigos pelos quais passava a Amazônia. De minha parte posso lhes afirmar que fiquei muito impressionado com a enorme cobertura vegetal, como um verdadeiro tapete que parecia cobrir todos os cantos daquela região. Somente os rios pareciam interromper as árvores.
Outro fator que me impressionou muito foram o rio Negro e o Amazonas. O encontro das águas escuras e caudalosas do Negro com o rio Amazonas segue por uma longa distância sem que nenhum dos dois pareça querer se misturar com o outro.
E há quem diga que nosso país não é, realmente, rico. O que há de biodiversidade numa região como a Amazônia ou como o Pantanal poderia salvar a humanidade de doenças para as quais ainda não foram encontrados os medicamentos adequados, seria capaz de fornecer novos alimentos, geraria o surgimento de perfumes e cosméticos. As espécies de animais e vegetais que existem naquela área são únicas, exclusivas em muitos casos e, imaginem que ainda não foram catalogadas todas as variedades! Outras possibilidades, já mapeadas algumas delas, se encontram no subsolo, com grandes jazidas de minérios.
Os olhos dos investidores brilham quando pensam em tão grandes possibilidades de investimentos e lucros. Os madeireiros que o digam. Partiram, especialmente a partir dos anos 1980, para uma exploração tão grandiosa da região que pode ser qualificada como predatória. Seguindo num ritmo alucinante de corte das árvores, parcelas significativas da mata começaram a desaparecer. Criadores de gado, seguindo a esteira dos madeireiros, começaram a se instalar na região, transformando em pasto, regiões cobertas por flora nativa. Exterminando algumas espécies de animais e de plantas através das queimadas utilizadas para "limpar" a área reservada ao gado.
Mas, uma das maiores riquezas da região ainda não havia aparecido para o mundo. Ela surge como decorrência da ação predatória de empresários inescrupulosos na região, como reação de contragolpe a vilania desses usurpadores. Trata-se da voz dos povos da floresta, encarnada na figura emblemática de Chico Mendes.
Seringueiro de profissão. Homem que conhecia desde menino os atalhos da floresta e os encantos da mesma. Trabalhador de um ofício caracterizado pelo fato de não devastar os recursos da mata. Chico viu minguar o meio do qual vivia. Presenciou a chegada de fazendeiros e madeireiros e percebeu que a ação dos mesmos acabaria destruindo a região. Pouco sabia a respeito das fraquezas do solo e das possibilidades de que aquela imensa cobertura vegetal poderia se tornar um deserto com a exploração desmedida. O esclarecimento veio com o tempo. A bravura e a valentia estavam com ele desde o início.
Presenciou o desaparecimento de algumas lideranças envolvidas na luta pela preservação da floresta e, mesmo assim, esteve sempre pronto para continuar na briga. Sabia do poder econômico dos concorrentes, os quais tentaram inclusive corrompê-lo, ainda assim não se deu por vencido. Prosseguiu e, com o passar do tempo, viu um grande número de pessoas se aproximando dele, querendo acompanhar sua batalha, mostrando-se sinceramente favoráveis a sua causa (que é a de todos nós).
Contar a história de Chico Mendes é trazer ao grande público uma verdadeira história de amor a vida. O mais emocionante de tudo isso é saber que Chico era brasileiro. E lembrar que sua luta não foi em vão. Salve Chico, de onde estiver, sua mensagem continua viva entre nós.
O filme "Amazônia em Chamas" faz um relato da vida e luta de Chico Mendes. Nos possibilita entrar em contato com a questão ambiental, o estudo de um ecossistema complexo como o amazônico, a caracterização geográfica daquela região e a biografia de um líder carismático do movimento ecológico. Veja o filme!
Ficha Técnica
Amazônia em Chamas(The Burning Season)
País/Ano de produção:- EUA, 1994Duração/Gênero:- 123 min., dramaDisponível em vídeo e DVDDireção de John FrankenheimerRoteiro de Andrew Revkin e William MastrosimoneElenco:- Raul Julia, Sônia Braga, Edward James Olmos, Luiz Gúsman.
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