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9 de maio de 2009

GRAMSCI E A EDUCAÇÃO A Atualidade do Pensamento de Gramsci globalização econômico-social contribui, no contexto histórico a que estamos inseridos atualmente, como elemento dificultador de uma possível , desejável e equitativa melhoria na qualidade de vida do ser humano.Dentre os diversos problemas que afetam a vida humana hoje, a educação vem ocupando cada vez mais espaço nas rodas de discussões e nos meios de comunicação. Com efeito, a questão educacional transcendeu os limites anteriormente estabelecidos e hoje tornou-se uma preocupação permanente permeando diversas áreas do conhecimento e atingindo o público leigo, antes tão desinteressado e pouco ou completamente desinformado. A preocupação com os rumos da educação como forma de contribuir para a minimização da problemática humana e da conseqüente e desejável reestruturação da sociedade pode ser evidenciada em diferentes fóruns nos quais o assunto vem sendo discutido pela : encontros, debates, seminários, congressos científicos e outros.Mas de que educação estaríamos falando? Que princípios filosóficos fundamentariam essa educação?Mesmo nos dias de hoje, programas educacionais abstratos, vinculados à idéia de que é possível transformar a sociedade só por meio da educação -que seria capaz de minimizar as diferenças econômico-sociais entre os indivíduos, homogeneizando assim as relações sociais - oriundos do pensamento de DURKHEIM (1955) e PARSONS (1964), são largamente difundidos nos meios educacionais e na sociedade em geral.Fato é que, em que pesem as críticas – comuns até mesmo dentro dos meios educacionais - ninguém escapa da educação! A educação ocorre mediando todas as relações sociais (BRANDÃO, 1981).Por expressar sempre uma doutrina pedagógica baseada em alguma filosofia de vida, em uma determinada concepção de ser humano e de sociedade, ela não se dá de uma única forma. Assim como não há um único local para exercê-la. A educação se dá na escola, na igreja, na rua, no trabalho, no botequim da esquina, enfim, no cotidiano do ser humano.É importante também enfatizar outro aspecto fundamental: além de sua função social, a educação tem uma significação política. E é justamente nesse aspecto da educação que consiste a importância do legado do pensamento de Gramsci. Segundo FREITAG (1978), autores como Gramsci imprimem à educação uma conotação política, na medida em que, no processo educacional, o indivíduo é habilitado a atuar no contexto social em que vive, não simplesmente reproduzindo as experiências anteriores, transmitidas pelas gerações que o antecederam, mas também somando a essas experiências sua análise e avaliação crítica, por meio das quais ele se torna capaz de organizar e reestruturar a sociedade.A educação é um ato político, na medida em que transmite modelos que prevalecem em uma sociedade: modelos de vida, modelos de trabalho, de relacionamento e de condutas. Por serem modelos de grupos sociais influentes, esses modelos têm significação política, uma vez que a política exprime relações de força até entre ideais opostos. As idéias políticas sobre a sociedade, a justiça, a liberdade, a igualdade, por exemplo, impregnam os modelos. Nesse sentido, para Gramsci, a educação é uma educação social e deve ser uma reflexão permanente sobre modelos sociais e sobre a organização social; assim toda teoria da educação deve, necessariamente, ordenar-se a um projeto de sociedade.GRAMSCI (1984) conceitua de “ideologia” as idéias hegemônicas que circulam na sociedade e que legitimam um conjunto de valores, os quais, em última instância, refletem as divisões e as lutas sociais e as relações de força da sociedade. Apesar de não ser um teórico explícito da educação, é Gramsci quem fornecerá os elementos para pensarmos uma teoria dialética da educação, na medida em que propõe uma revisão do conceito marxista de Estado. Se, em Marx, o Estado detinha a exclusividade da coerção e da violência, em Gramsci isso será subdividido em duas esferas: a sociedade política, na qual se concentra o poder repressivo da classe dirigente (governo, tribunais, exército, polícia), e a sociedade civil, constituída pelas associações privadas (igrejas, escola, sindicatos, clubes, meios de comunicação), nas quais circulam as ideologias que funcionam como “cimento” da formação social, e por meio das quais a classe hegemônica procura impor à classe subalterna a sua concepção de mundo.Para Gramsci, a sociedade civil expressa o momento da persuasão e do consenso que, junto com o momento da repressão e da violência (sociedade política) asseguram a manutenção da estrutura de poder (Estado). Na sociedade civil, essa dominação se expressa sob a forma de hegemonia. Essas perspectivas indicam a natureza contraditória da educação, explicitada por Gramsci, que é, ao mesmo tempo um instrumento estratégico de dominação nas mãos da classe dominante, e também um instrumento estratégico de libertação por parte da classe dominada, uma vez que, mediante seus intelectuais orgânicos, ela pode lançar no âmbito da sociedade civil sua contra-ideologia.Gramsci será o pensador que atribuirá à escola e à educação o papel de uma dupla função estratégica: a de conservar e, ao mesmo tempo, minar as estruturas do modelo social e econômico. Para ele, “toda relação de hegemonia é necessariamente uma relação pedagógica”, na medida em que a contra-ideologia pode apoderar-se da educação hegemônica, corroendo-a, destruindo-a e reorganizando-a numa nova educação, que por sua vez divulgará uma nova concepção de mundo.De acordo com o legado do pensamento de Gramsci, entende-se que o educador tenha um papel político-pedagógico transformador: sua atividade não é neutra, já que seu trabalho está voltado para os grupos dominados. Esses pressupostos orientam uma prática educativa que privilegia o diálogo, os encaminhamentos conjuntos na solução de problemas e, sobretudo, na construção de saber coletivo. O educando torna-se sujeito, exatamente pela possibilidade de criar e recriar o conhecimento e intervir na realidade, modificando-a.Gramsci irá também influenciar decisivamente toda a pedagogia crítica desenvolvida por Paulo Freire, em fins dos anos 1960, e também a Teoria Crítica da Escola de Frankfurt, por meio de seus representantes mais significativos, como Horkheimer, Marcuse, Adorno e, principalmente, Habermas (AYUSTE, 1997).Em oposição ao projeto pedagógico iluminista, caracterizado pela exaltação do novo e do culto à razão e à verdade objetiva, a pedagogia crítica, sob a influência de Gramsci propõe a libertação dos indivíduos e a luta contra as desigualdades sociais a partir da crítica ao desenvolvimento selvagem do capitalismo, à sociedade de consumo e à colonização cultural. Bibliografia AYUSTE A. A pedagogia crítica e a modernidade. Pátio - Revista Pedagógica, Porto Alegre, Editora Artes Médicas Sul, ano I, no 2 Agosto/Outubro, 1997.BRANDÃO CR. O que é a educação. São Paulo: Brasiliense. Colecção Primeiros Passos, 1981.DURKHEIM, E. Educação e Sociologia, 4a. Ed. Melhoramentos, 1955.FREITAG B. Escola, Estado e Sociedade. São Paulo: Edart, 1978.GRAMSCI A. Maquiavel, a política e o estado moderno. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1984.GRAMSCI A. Os intelectuais e a organização da Cultura, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979.GRAMSCI A. A concepção dialéctica da história. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968.17PARSONS T. The Social System. Glencoe, The Free Press, 1964. Fred Fernandes Publicado no Recanto das Letras em 23/01/2009Código do texto: T1400235