POSTS RECENTES

26 de setembro de 2011

para refletir

Me dá um aluno aí

Apareceu uma nova fonte de recursos para quem pretende ganhar dinheiro com nossos jovens: o intermediário de faculdades privadas.
Como descreve uma reportagem de Elvira Lobato e Antonio Gois na Folha de S. Paulo, hoje, o esquema funciona assim: a ONG que conseguir arrumar um aluno para encaminhar a instituição, pode ser remunerada em até 100 reais por cabeça. Participam do esquema entidades ligadas a movimentos sociais, a Igrejas evangélicas e mesmo siglas ligadas a Igreja Católica. Como chamariz, algumas entidades oferecem um lap-top como premio para alunos que conseguirem bolsas.
Este esquema indecente reflete, em primeiro lugar, o abandono da juventude brasileira pelo Estado, um processo antiquíssimo e permanente.
Seu momento especial ocorreu sob o regime militar, quando a juventude excluída das universidades públicas organizou o civilizadíssimo movimento dos “excedentes”, destinado a garantir vagas para estudantes que haviam sido aprovados nos exames mas eram não encontravam lugar nas escolas.
Atreladas a uma política de privatização do ensino superior que era uma das exigencias ideológicas do governo americano, principal fiador do novo regime,  as autoridades respondiam com cassetetes, bombas de gás lacrimogeneo e outros atos de violencia que ajudaram a empurrar a juventude estudantil para ações armadas pela falta de alternativa e de diálogo.
Perdeu-se, ali, uma oportunidade histórica de abrir mais vagas num processo gradual, economicamente viável e socialmente produtivo, para atender a uma vontade de estudar que teria contribuído para o país desenvolver-se com mais equilibrio e rapidez.
O saldo foi uma situação absurda. Como era de se imaginar, as universidades públicas só conseguem abrigar uma fatia desproporcional de estudantes que conseguem atravessar o estreitíssimo funil dos vestibulares.
Em função disso, um país com a nossa distribuição renda só consegue atender a demanda de nossos jovens com uma oferta gigantesca de vagas em instituições privadas, universo que reune instituições de altíssima qualidade e outras que não passam de uma arapucas sem projeto pedagogico, professores despreparados e uma orientação mercenária.
Nos últimos anos a pressão das universidades privadas tornou-se tão poderosa e politicamente tão sofisticada que todo centavo que se gasta numa universidade pública chega a ser visto como uma forma de perversidade, pois, teoricamente, poderia ser destinado ao ensino fundamental e médio.
Se a situação já está ruim, pode piorar um pouco mais.
Como sabe qualquer pessoa que já teve 18 anos, a única frase que a juventude não precisa ouvir são discursos moralistas em tom severo e conteúdo vazio.
Também não cabe aceitar o conformismo de quem diz que uma escola que resolveu arrebanhar estudante como se fosse gado no pasto é melhor do que nada. Ensino ruim no futuro dos outros não doi, concorda?
A principal responsabilidade pela situação encontra-se nas autoridades educacionais em todos os níveis — municipal, estadual e federal. Pré-candidato a prefeitura de São Paulo, o ministro da Educação Fernando Haddad chegou a ser vaiado na USP — onde estudou — pela carencia de recursos destinados ao ensino superior. Na ponta do lápis, as verbas aumentaram.
Mas a turma do “me dá um dinheiro aí” mostra que se fez muito pouco.






Nenhum comentário: