Ideologia da elite
23.06.2011| 01:30
Hélio Leitão - Advogado
Sucesso de bilheteria, o filme Tropa de Elite, em suas versões 1 e 2, caiu no gosto do público brasileiro. Tropa de Elite 2 é o filme que mais espectadores levou às salas de cinema dentre todos os filmes já exibidos no país. Campeão de prêmios.
Boa notícia para muitos amantes do cinema, que viram a produção nacional renascer em 1994 com Carla Camurati e seu “Carlota Joaquina, princesa do Brazil”, após o seu quase desaparecimento com a extinção da Embrafilme - Empresa Brasileira de Filmes S.A., obra do Governo Collor.
O cinema, como de resto todo elemento de cultura de massa, é poderoso veículo de transmissão de mensagens e valores, fazendo-o com maior ou menor grau de nitidez e elaboração.
A saga do capitão Nascimento, oficial do truculento Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, contada, força é convir, com grande competência e pontilhada de cenas de violência, torturas e execuções sumárias, carrega nas suas dobras forte carga ideológica, que deve ser denunciada pela consciência de tantos quantos se debruçam seriamente sobre as questões afetas à segurança pública.
A mensagem que o filme transmite não escapa a uma percepção minimamente aguçada: se o policial for honesto e comprometido com o combate à criminalidade, ser-lhe-ão franqueadas as portas da tolerância social quanto a toda sorte de abusos e violência. Às favas o respeito à lei, ao direito e à dignidade humana.
Preocupa, embora não surpreenda, a imensa ressonância que uma tal mensagem adquire em meio ao grande público, afinal vítima cotidiana da violência e justificada-mente descrente das instituições e aparelhos estatais de repressão criminal.
As explosões de violência do capitão Nascimento, este quase-herói nacional, arrancam aplausos da plateia. Como se à violência se devesse contrapor mais violência e o crime pudesse ser combatido por criminosos a serviço do Estado.
Não nos deixemos enganar.
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