Com o título “Desculpe-nos, Antonio Nóbrega”, o professor Francisco Cavalcante, da UFC, escreve lamentando a falta de educação do público fortalezense quando da aula-espetáculo do artista Antonio Nóbrega. O professor conta os detalhes expõe um fato: precisamos formar plateias.
Foi vergonhoso o comportamento da platéia durante a sua aula-espetáculo de Antonio Nóbrega, na última sexta-feira, no Teatro do Dragão do Mar. Por 15 cidades por onde você se apresentou, disse nunca ter visto nada igual. Na condição de fortalezense, também me constranjo com o que vejo por aqui. A nossa Fortaleza bela esconde uma grande feiúra.
Uma primeira vez não foi suficiente para que o seu pedido de não usar flashes durante o espetáculo fosse atendido. Delicadamente explicou os danos que causam no artista as luzes vermelhas e os flashes emitidos por celulares. Comunicou-nos a sua intenção em oferecer o que de mais belo poderia trazer para Fortaleza, lugar que não se apresentava há tempos.
Mais uma interrupção se fez necessária para renovar a mesma súplica. Na terceira, então, você parou a aula-espetáculo e posou para registros quaisquer, permitindo que os flashes fossem disparados freneticamente, e brincou dizendo que as suas fotos não valeriam muita coisa. Na quarta vez, concordo, não tinha como construir outra imagem do fortalezense e esta que você carrega é a que temos visto quase sempre nos nossos teatros: flashes são disparados, celulares tocam e pessoas conversam durante as apresentações. Falta educação para a apreciação artística. Na verdade, como alguém exclamou na platéia naquela noite, falta educação do nosso povo.
As famílias e as escolas não mais ensinam os bons modos de convivência social. O trânsito caótico de nossa cidade é a imagem da feiúra que nós somos. A cidade suja representa o lixo que é a nossa própria extensão.
Obrigado, Antonio Nóbrega, por interromper a sua aula espetáculo para também compartilhar que o belo pode ser apreciado. Infelizmente, muitos não foram ensinados a estesiar as artes. Subtraíram as Humanidades dos lares, das televisões e dos currículos das escolas e das universidades. Hoje, a prioridade é o ensino das Tecnologias. Munidas com suas ferramentas, veja o que fazem as pessoas com os seus celulares que fotografam, filmam e acessam a internet.
Provavelmente, correram para acessar as suas redes sociais e “dizer” que estiveram no seu show. Postaram a sua foto ou o filme como comprovação de que lá compareceram. Na verdade, elas postam-se.
É lamentável que em Fortaleza você tenha necessitado educar a platéia. Por outro lado, ficamos gratos por sua repreensão. Este é o triste retrato do que ainda somos: um povo sem educação artística e sem políticas públicas para as artes. Fecharam os principais centros formadores para as artes em nossa cidade. Para muitos, restam os seus celulares e redes da internet como lazer e entretenimento cultural.
Você é um exemplo de quem continua acreditando na arte que humaniza e transforma. Espero que de uma próxima vez possamos recebê-lo com mais delicadeza.
* Francisco Silva Cavalcante Junior
Professor da UFC.
Fonte: BLOG DO ELIOMAR
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