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2 de fevereiro de 2011

ECOMUSEU

Ecomuseu de Sabiaguaba já atraiu mais de 20 mil pessoas

Com 10 anos de existência, museu que dissemina o mangue e sua população continua precisando de apoio para se manter

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Rusty Barreto é um pernambucano de meia idade que mora em Fortaleza há 16 anos, 11 deles na Área de Proteção Ambiental (APA) de Sabiaguaba, à margem da Foz do Rio Cocó. Quando lá se instalou, tirava o provento de um bar que abrira para acolher motociclistas aventureiros.
Mas, pelo lixo espalhado na praia viu que a comunidade local precisava de sensibilização ambiental e desenvolveu um projeto educação onde estimulava a apreciação da natureza, guiando estudantes em trilhas ecológicas e fazendo-os interagir com bichos e plantas curiosas.
Por volta de 2001, começou a coletar e empalhar bichos. Enquanto tocava o bar, formava o acervo do que viria logo a se tornar o Museu Natural do Mangue de Sabiaguaba.
Dez anos depois da criação do espaço, o Verde foi lá, conhecer de perto o museu. Nada mais apropriado na edição do Dia Mundial das Zonas Úmidas, celebrado amanhã (veja box nesta matéria). O mangue é, afinal, uma Zona Úmida.
Ao chegar lá, nossa equipe foi prontamente atendida por Rusty, no tímido espaço destinado ao Museu. Tímido e cativante, o acervo está disposto na própria casa do seu idealizador, devidamente organizado e composto por peças curiosas e importantes, como arcadas de tubarões, ossos de baleia e tartarugas, moluscos, corais e peixes, além de espécimes conservados em formol, como cavalo marinho, lacraia e mais peixes.
Não só os elementos impactam na imaginação das crianças, como remetem ao ambiente do mangue e do entorno da praia de Sabiaguaba. Lá, por exemplo, são frequentemente encontradas tartarugas cabeçudas – ameaçadas de extinção – muitas vezes mortas ou moribundas por culpa do homem. Aves, partes do universo do mangue, também estão representadas no museu, assim como siris e caranguejos, símbolos do manguezal.
“Tudo o que fiz até hoje foi sem apoio de prefeitura, governo ou empresas”. Desabafa Rusty, estendendo-se à fiscalização: “Eu sempre digo: autue menos e atue mais”, pois quando a fiscalização bate à porta da comunidade, diz ele, o medo é geral, pois uma multa é muito pesada para a comunidade, que sobrevive da pesca. “Sobrevive”.
Segundo ele, desde 2001, já passaram pelo Museu Natural do Mangue mais de 20 mil pessoas – muitas delas estudantes de escolas públicas e particulares que agendam visitas ao custo, por aluno, de R$5 (escola pública) ou R$10 (privada). E, quando o estudante não tem condições de pagar, contribui com alimento ou ganha gratuidade.
O restante da renda do museu é gerado por atividades que Rusty promove, como trilhas ecológicas e aluguel de caiaques que levam o público pelo rio Cocó, diz ele, até a região do shopping Iguatemi. Os caiaques foram obtidos pelo museu há cerca de três anos, através do projeto “Escolinha de Canoagem”, que conseguiu o apoio financeiro da Associação Brazil Foundation (entidade que faz doações nas áreas de Educação, Saúde, Direitos Humanos, Cidadania e Cultura).
Essas e outras atividades socioambientais fazem parte da visita ao museu. Cada um que lá chega vive um pouco do mangue. “A visita em si ao museu é só metade do passeio”, diz Rusty. “Porque é um museu com vivência experimental, diferente a cada estação do ano”.
O conceito do Museu Natural do Mangue é baseado na chamada Nova Museologia, em que o maior interesse é pelo desenvolvimento das populações, refletindo os princípios motores da sua evolução e as associando a projetos de futuro. É um movimento – também chamado de museologia ativa – que afirma a função social e o caráter global do museu e de suas intervenções. Como disse Rusty, um ecomuseu.
Sua missão não se restringe a documentar o mangue e sua história natural, mas também coletar bens materiais e imateriais que relatem a vida das comunidades ribeirinhas que habitam o mangue e difundir a importância da conservação de ambos.
Nova estrutura
Uma das metas do Museu Natural do Mangue para 2011 é conseguir uma nova estrutura, mais adequada para um museu. As instalações atuais conseguem fazer certa mágica com o espaço, bem pequeno e simples, mas bastante atraente. Contudo, para transformá-lo numa atração com a magnitude que pede, é preciso uma evolução. Houve até um convênio com o curso de Arquitetura da Universidade Federal do Ceará, que promoveu atividade de extensão onde os alunos desenvolveram projetos para uma nova sede, toda em conformidade com o ambiente local, construída com bambu, marmeleiro, carnaúba e aço, deixando o concreto apenas para as bases.

“Em 2011 queremos buscar esse sonho. Não estão fazendo um aquário de R$200 milhões na cidade? Com menos de um milhão, o Museu do Mangue poderia ter uma sede nova e tornar-se um verdadeiro cartão-postal de Fortaleza”, diz Rusty.
“Alfabetização Ambiental”
Este ano, o Museu do Mangue vai lançar o bloco de carnaval Melado de Lama, com conotação educativa, para conscientizar a população sobre a preservação ambiental. “O que acontece no Fortal é um absurdo. Não só pelo lixo sólido produzido, mas por outros tipos de poluição que causa, como visual, sonora...”. Diz Rusty, que completa: “Não precisamos de educação ambiental, mas de alfabetização ambiental. Somos capazes de falar sobre o degelo nas montanhas, mas não vemos os problemas que estão a um metro de distância, como o lixo na praia”.
O que são Zonas Úmidas?
Um mangue como o de Sabiaguaba é uma Zona Úmida, ou seja, uma região onde a água cobre o solo de forma perene ou em algumas épocas do ano. Entre os diversos tipos de Zonas Úmidas estão pântanos, brejos, lagos e lagoas, florestas temporariamente alagadas, recifes de coral, manguezais e outros, que podem ser naturais ou artificiais, com água parada ou corrente, doce ou salobra.
Zonas Úmidas são partes cruciais do meio ambiente natural. Elas protegem costas da ação das ondas, reduzem os impactos de enchentes, absorvem poluentes e melhoram a qualidade da água. Servem de habitat para animais e plantas e muitas contém grande biodiversidade endêmica.
Providenciam uma importante gama de serviços sociais, ambientais e econômicos. Muitas têm enorme beleza natural e são essenciais para os nativos. E, são os elos vitais na transição entre águas doces e salgadas. Saiba mais no endereço da Convenção de Ramsar (em inglês): http://bit.ly/OEVwetlands
2 de fevereiro
Dia Mundial das Zonas Úmidas

A cada ano, no dia 2 de fevereiro, comemora-se o Dia Mundial das Zonas Úmidas. A data marca a adoção da Convenção das Zonas Úmidas (ou Convenção de Ramsar), ocorrida há 40 anos – em 2 de fevereiro de 1971, na cidade iraniana de Ramsar.

A Convenção é um acordo intergovernamental que incorpora o compromisso dos países signatários em manter o caráter ecológico de suas Zonas Úmidas de Importância Internacional e planejar o “uso racional”, ou sustentável, de todas as zonas úmidas em seus territórios.

Atualmente, 160 países (Brasil incluso) integram a Convenção. Foram designados até hoje 1.912 sítios úmidos de importância internacional, que cobrem cerca de 187 milhões de hectares da superfície do planeta. Onze estão situadas no Brasil, totalizando 6,5 milhões de hectares. Entre eles está o Pantanal Matogrossense.
Ao contrário de outras convenções ambientais globais, Ramsar não é afiliada ao sistema das Nações Unidas, mas trabalha em estreita colaboração com os outros acordos.
O Dia Mundial
Desde 1997, a todo ano, agências governamentais, ONGs e cidadãos de todos os níveis da sociedade usam o 2 de fevereiro para realizar ações que chamem a atenção do público sobre o valor e os benefícios gerais das zonas úmidas e, particularmente, da Convenção de Ramsar.
O tema deste ano é “Zonas Úmidas e Florestas”, escolhido especialmente em função de 2011 ser o Ano Internacional das Florestas, instituído pelas Nações Unidas.

Serviço: Museu Natural do Mangue
Rua Professor Valdevino, 58 - (após a ponte do Caça-e-pesca,
dobre à esquerda e siga na mesma rua até lá).
Aberto ao público de terça a domingo. Durante a semana, via agendamento,
e aos sábados e domingos, com portas abertas.
Mais informações: 9986-8564 / 3476-9964 (projeto.educar@hotmail.com)

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