Ouvi recentemente um comentário de uma professora que assumiu o cargo neste último concurso para a Rede Pública Municipal o qual me deixou incomodada, estarrecida. Decidi, após ficar dias neste incômodo, pensar um pouco mais na afirmativa da docente, e manifesto essas ideias aqui. Indagada se ainda estava empregada na rede privada, onde trabalhara numa escola de médio porte, ela falou: _ Não, não, fiz concurso e estou na prefeitura! Agora estou no ensino fundamental, ensinando aqueles projetos de marginais! Isso não saiu mais da minha cabeça! Como aceitar que alguém que tem formação superior e trabalha com educação de crianças faça um comentário desses? Então ela pensa que as crianças pobres são projetos de marginais? Com quanta negatividade sobre o ensino ela age todo dia, o dia todo nesta instituição?
Sempre fui contra a ideia de que as pessoas devam ir para o serviço público por imaginar a ilha paradisíaca da estabilidade de emprego ou ainda por contar, regressivamente, do dia que entra no serviço, sua aposentadoria. Sou funcionária pública para pensar numa amplitude maior minha ação docente, pelo apreço que tenho pela maioria da população e seu direito à educação e por saber do meu dever de buscar condições de educação na injusta sociedade em que vivo. Nossa ação é contundente quando arraigada em valores que removem práticas de ensino para cima de ações e compreensões sobre cidadania, criticidade, inclusão, política, afeto. Não concebo um educador, muito menos um educador de escola pública, decidir estar ali para taxar crianças em desenvolvimento de marginais, ou de anunciar suas projeções de marginalidade sobre eles. Ou essa criatura está no lugar errado, ou não atentou, em seus cursos de graduação e mestrado, para o que significa compromisso social e político, laço primeiro (e último) para que um docente redescubra o cotidiano escolar e desafie seu caráter reprodutor do que está posto.
Autora: BERNADETE PORTO, COLUNA EDUCAÇÃO , JORNAL O POVO.
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