Excluídos da cidadania
Faz vinte e cinco anos que a Constituição Federal foi solenemente aprovada, mas apesar de sua forte incidência nos direitos sociais, continua ignorada nos mais importantes capítulos referentes à matéria. Os poderes constituídos mantém sua indiferença no reconhecimento que represente, pelo menos, o efeito prático dos direitos primários concernentes ao exercício da cidadania.
O que seriam as conquistas sociais nela inseridas vão sendo paulatinamente excluídas do texto constitucional e as poucas remanescentes são acintosamente desobedecidas. A euforia do momento transformou-se, mais tarde, em mera esperança e hoje não passa de uma ilusão que contraria as perspectivas dos mais diferentes segmentos da sociedade. As reformas propostas, ao Congresso Nacional, somente são atendidas com rapidez e sem discussão, quando o interesse é das elites, enquanto que as outras recebem um tratamento discriminatório que ultrapassa os limites da justiça.
As unidades sindicais que deveriam defender os interesses da numerosa classe trabalhadora, hoje se confundem com as legendas partidárias, esquecendo de propugnar soluções que contemplam o interesse geral. Governo e oposição se digladiam exaustivamente em torno de alguns assuntos, sem que os propósitos mais compatíveis com a realidade nacional sejam efetivamente levados com a seriedade exigida pela sociedade.
Enquanto isso, os projetos que dispõem sobre o bem coletivo continuam a serem cobertos pela poeira do tempo, esquecidos nas prateleiras do Congresso Nacional. O homem comum, que nem mesmo sabe classificar a criminalidade – pensa que o crime se resume em matar e roubar –, fica entregue a sua própria sorte e rapidamente conclui que o correto é o errado prevalecer sobre o certo. Os escândalos, principalmente no sistema financeiro e nos desvios de recursos públicos, de tão rotineiros, começam a ser encarados como fato normal e passam a modelar o comportamento de boa parcela da comunidade brasileira. Afora isso, a ignorância, fruto da falta de escolaridade, contribui para o total desconhecimento da cidadania, tema que, embora seja frequentemente enaltecido nas promessas eleitorais, nunca foi didaticamente explicado para os menos esclarecidos.
Os crescentes problemas que o País enfrenta, não impedem que os sonhos da chamada globalização continuem acalentados pela desenfreada ambição dos artífices do generoso mercado financeiro. Muitos, porém, permanecem incluídos na globalização da miséria, porque a outra é impossível de ser alcançada pela grande maioria que continua presa aos grilhões da desigualdade econômica e muito distante da alforria que lhe garanta o acesso a longínqua cidadania.
lucio.satiro@hotmail.com
Lúcio Sátiro
Jornalista
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