Opinião
Sem ilusões
A volta dos professores à sala de aula é um momento que deve ser percebido em toda sua significação, sem equívocos de qualquer parte
10 Jun 2009 - 00h47min
Depois de 24 dias de greve, os professores da rede estadual estão de volta às salas de aula. A decisão do retorno foi tomada depois que o Sindicato Apeoc recebeu a notificação oficial de ilegalidade da greve, declarada no fim da última sexta-feira pelo juiz da 2ª Vara da Fazenda Pública, Francisco Chagas Barreto Alves. Caso isso não tivesse acontecido, uma multa diária incidiria sobre cada professor, além de outra sobre o sindicato da categoria. Se a determinação judicial é justa ou não, cabe aos especialistas analisar. De qualquer modo, uma liminar é para ser acatada, pois esta é a regra do Estado Democrático de Direito, como também os recursos previstos pela própria legislação para quem se sentir prejudicado. Ou seja, os requisitos formais foram atendidos - o que é bom para a saúde das instituições -, mas não basta. Evidentemente, seria ingênuo supor que apenas uma decisão formal resolva um contencioso desse tipo, visto que há reflexos incontornáveis que se espraiam para a vida da comunidade de ensino e das famílias dos alunos. Mágoas e ressentimentos de quem se sinta, de alguma maneira, injustiçado são fatores não-subestimáveis em uma atividade na qual a harmonia no ambiente de estudos, decorrente da motivação de mestres e alunos são imprescindíveis para o bom sucesso das atividades de ensinar e de aprender. Assim, é mais do que recomendável o prosseguimento das conversações entre os dois lados em litígio (sem esquecer alunos e pais). Não é difícil perceber o quanto a paralisação é prejudicial a todos, sobretudo, aos 544 mil estudantes que estavam sem aulas. Mas, também, não dá para contornar o fato de que os professores precisam sentir-se motivados para desempenhar um papel que exige o máximo de desvelo para produzir os frutos requeridos. Se os educadores apenas se restringirem ao cumprimento formal de sua missão, efetivamente, os resultados serão bem abaixo do esperado (isso é humanamente compreensível). Por isso ganha importância a forma como as autoridades governamentais lidarão com esse quadro, pois seria enganoso imaginar que o recurso ao constrangimento legal seja suficiente para resolver a questão. Seria a paz dos cemitérios. O Estado brasileiro – e, antes de qualquer um, a sociedade – precisa entender que a educação é de fato o único instrumento através do qual um povo pode conquistar um lugar ao sol, num mundo regido pela competência na produção e absorção do conhecimento. Carrear a maior quantidade de recursos para isso é apenas uma decisão lógica, de quem entende como funciona o mundo contemporâneo. Nada - mas, nada mesmo -, poderá ser feito em qualquer área daqui para frente, sem o domínio dessa ferramenta fundamental. E isso não se faz sem educadores providos de autoestima elevada, resultante de condições de trabalho dignas que expressem o reconhecimento verdadeiro à sua nobre missão.
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