Lixar-se para a opinião pública é quebra de decoro
7 de maio de 2009 - 20:47
- Estou me lixando para a opinião pública. Até porque a opinião pública não acredita no que vocês escrevem. Nós nos reelegemos mesmo assim.
A frase é do deputado federal Sérgio Moraes, do PTB do Rio Grande do Sul, relator do processo contra aquele outro que construiu um castelo. É uma frase irritante. Assim como é irritante quase tudo que ele disse à imprensa hoje e ontem. E é irritante, em boa parte, porque é verdade. Sérgio Morais acertou na mosca. Eles se reelegem mesmo assim.
Por quê?
Será que é porque somos uns imbecis? Será que brasileiro é masoquista? Gosta de apanhar? Merece apanhar?
Hmmmm. Essa hipótese é tentadora. A sobrevivência política de alguns cretinos comprovados dá a sensação clara de que a maior parte da população do Brasil bate pino, cheira cola, queima dinheiro, come bosta.
Mas eu não acho que é por aí.
Sou um viajante. Já mochilei pela Romênia, pelo Vietnã, pelos Estados Unidos, pela Turquia, pela Holanda, pelo Peru, pela França, pela África do Sul, por Hong Kong, pelo Camboja, pela Antártica. Não é uma pesquisa científica, claro, é minha experiência subjetiva, mas a sensação que eu tenho é a de que a porcentagem de paspalhos pelo mundo é mais ou menos a mesma em qualquer lugar. Não acho que os brasileiros sejamos mais ou menos burros que nenhum outro povo. Não mesmo.
Também acho que a quantidade de canalhas varia pouco de país para país. Em qualquer lugar, há sociopatas. Em alguns lugares, os sociopatas crescem numa família estruturada, saudável, feliz, numa sociedade com princípios claros, regras justas e socialmente aceitas. Esses caras tendem a aprender a domar sua sociopatia e a viver pelas regras, até para evitar o ostracismo. Às vezes, quando ninguém está olhando, ou quando a tentação fica grande demais, eles fazem uma canalhice. Mas, no geral, ficam na deles e não incomodam ninguém. Uma professora minha contou que tentou pesquisar casos de corrupção na Noruega. O único que ela encontrou envolvia a compra de uma barra de chocolate.
Em outros lugares, a sociedade é permissiva. As regras são injustas e nem os próprios responsáveis por fazer cumpri-las acredita nelas. Nesses lugares, os sociopatas apitam. Com seu olhar desvairado, sua ética troncha, seu raciocínio maldoso, eles nadam de braçada na sociedade frouxa.
Não se trata de dizer que a Noruega seja melhor que o Brasil. Não existe sociedade sem doença, acredite. Cada país tem a sua. A Noruega inclusive.
Mas a doença do Brasil a gente sabe qual é, não sabe?
É a aboluta incapacidade de distinguir o que é público do que é privado. É por isso que ninguém paga imposto nem concerta a calçada nem acha esquisito desviar dinheiro de uma creche que cuida de crianças com câncer (exemplo hipotético, mas verossímil).
Essa é a nossa doença. O deputado Sérgio Moraes fez o diagnóstico perfeito, ao declarar que nós reelegemos esses caras mesmo assim, ou ao sugerir que se dê uma anistia completa a tudo que se fez no passado, porque não havia regra contra tirar férias com dinheiro público, ou contra contratar a si mesmo com dinheiro público, como se fosse preciso escrever uma regra dizendo que “usar dinheiro público para fins privados é errado”.
Doença a gente trata.
Que tal começar por esse Sérgio Moraes aí?
Nenhum comentário:
Postar um comentário