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21 de fevereiro de 2011

desabafo

Diário do Nordeste

Segunda-feira 21/02/2011

A ditadura dos infantes

publicado em 21/02/2011 - 18:27 por Egídio Serpa
(*) Professora Célia Bernardo, colabora deste blog:
Os valores se inverteram tanto na sociedade atual, que ficamos sem saber o que poderá acontecer com as novas gerações que ocuparam o lugar de destaque na família, determinam, gritam, fazem-se obedecer, impõem todas as ordens, na verdade, acabam vencendo em todos os sentidos.
Na qualidade de mãe, de educadora e na condição de estar na vanguarda da educação em um dos municípios cearenses, tenho me preocupado muito com essa troca de funções nas famílias. E o pior, os pais não se dão conta de que perderam as rédeas e que se encontram reféns de uma clientela que tem conseguido tudo, através do grito e, em muitas vezes, através de uma violência camuflada, apanhando dos filhos cuja idade ainda sequer lhes garante a noção do reconhecimento do certo/errado. Partilho situações de extrema pobreza, mas as crianças exigem os equipamentos eletrônicos que a  mídia lhes ensinou a consumir e a ter e tal influência se transforma em exigência absurda, que o parco recurso que deveria garantir o sustento da família é deixado nas lojas em troca da birra das crianças. A maioria não tem condições de uso e de manutenção de tais ferramentas, porém, tem o poder de os exigir e de os ter.
Como veem isso os pensadores em educação, os psicólogos, enfim essa gama de profissionais responsáveis pelo desenvolvimento e pela orientação das faixas etárias? Eu mesma os vejo, considerando tudo normal e vejo a sociedade avançar sem crescer, sem construir valores que antes favoreciam a boa convivência entre as famílias, porque o pai se impunha positivamente como o cabeça da família e a mãe como aquela doméstica exemplar cujas virtudes de zelo, de proteção, de amor, de respeito e de carinho se tornavam os ingredientes essenciais à formação da família. Não faz poucos dias, em que presenciei uma cena absurda dessa troca de funções no interior das casas, pois acho que nem lares são mais. Uma criança de mais ou menos seis anos de idade deixou a sala de aula, pois o tempo letivo havia terminado e a mãe o recebeu na porta da sala, sentou-se à entrada do colégio, aguardando a hora exata de levar a pequena autoridade familiar para casa. O horário já estava avançado; horário de almoço. A pequena autoridade de seis anos exigiu um sorvete. A mãe tentou convencê-lo do avançar da hora e do apetite que, certamente a guloseima coibiria. O garoto gritou, esperneou e a mãe insistiu em ser dura, mas estava clara a sua falta de autoridade. O garoto quis mostrar a todas as pessoas que o dono da casa era ele e aí, espalmou a mão e encheu a cara da mãe de pancadas. Ele não criou uma cena, apenas deu uma demonstração de como as coisas se resolvem dentro da sua casa. O mandante é ele; a mãe só tem um direito: obedecer-lhe. E o final da história? A mãe humilhada diante de todos e o filho com o sorvete na mesma mão que espancou a mãe; pois, como diz o poeta, “… a mão que afaga é a mesma que apedreja…”
Pretendo partilhar este desabafo com quem, na verdade, pode interferir, divulgando-o, preocupando-se com o novo modelo de família e advertindo a sociedade para unir vontade e desejo a fim de que se continue acreditando nos grandes pilares, que ao meu ver, continuam sendo sustentáculo desta sociedade: a família, a igreja (seja ela qual for) e a escola. Infelizmente, teremos um castigo punitivo aos futuros adultos, porque não os educamos, enquanto crianças. Eu me preocupo a cada situação que presencio, mas temos de ser plural nas ações.
(*) Célia Bernardo é profesora e secretária de Educação do município carense de Santa Quitéria.

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