LEITURAS DE VEJA Ética não se aprende na escola? Por Gabriel Perissé em 29/6/2010 | |
"Aula de ética é em casa, não na escola" é o título do mais recente artigo de Gustavo Ioschpe (revista Veja, edição nº 2171), economista que se autodefine como "especialista em educação". O artigo defende a formação da consciência ética como tarefa da família, asseverando que nossas escolas e professores são incompetentes nesse aspecto, para o que basta constatar o fato de que a cola, o mais grave delito (segundo Ioschpe) praticado no ambiente escolar, jamais é devidamente punida. A palavra "matéria", entre vários significados, designa o "conteúdo de uma disciplina escolar", inscrevendo-se no campo da didática, ou "qualquer texto jornalístico". Se ética não é tema a ser abordado na escola, não deveria sê-lo na mídia. Especialmente quando lemos autores como Ioschpe, para quem a consciência ética das crianças deve ser formada... O autor afirmará depois que as eventuais (nada eventuais, para quem conhece a vida de tantos alunos!) deficiências da família e do Estado não poderão ser corrigidas pela escola. Para ele, ética na escola é ilusão. Ler quem entende da matériaEm contrapartida, vale a pena ler a entrevista de Ken Robinson publicada pela revista IstoÉ da semana anterior (edição nº 2119). O professor inglês (assistam a uma palestra sua) não perde tempo falando de cola. Esse "delito", na verdade, é efeito da educação punitiva e chantagista a que submetemos crianças e jovens. Uma concepção de ética que ultrapasse o obedecer a regras está integrada a um modo de ver a formação humana e profissional como busca da criatividade. Desenvolver os talentos de cada aluno, sem a obsessão instrucionista, ainda presente em nossa cultura e em nossa pedagogia, contribuirá para que as pessoas se tornem comprometidas com o bem pessoal e social. Não é com punições/premiações que se vencem problemas como impontualidade, cola e violência. Ioschpe deveria ler Ken Robinson e outros educadores sobre a autêntica arte de ensinar. Dizia Heidegger que ensinar consiste em deixar o outro aprender; deixar o outro tornar-se o que é. |
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30 de junho de 2010
UMA LEITURA PARA REFLEXÃO
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